GERUNDISMO

    O político José Roberto Arruda não sabe o que faz para se notabilizar. Como senador, envolveu-se na violação do painel eletrônico do Senado, na cassação do mandato do ex-senador Luis Estevão. No início, aos prantos, negou a acusação em um discurso na tribuna. Dias após, encurralado, na mesma tribuna, admitiu a culpa. Depois, para não ser cassado, renunciou ao cargo. Atual governador de Brasília, o Sr. José Roberto – na falta do que fazer – errou a mão e no lugar de “estar atacando” o gerundismo (expressar ações no tempo futuro), “demitiu”, no último dia 1º de outubro, o gerúndio do serviço público do DF. Diz o primeiro dos quatro lacônicos artigos do decreto: – “Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal”. A justificativa para o despropósito está no Art. 2º: – “Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA”.O GloboOnline lembra que, esses “arroubos” acontecem há tempos. Entre um uísque e outro, Jânio Quadros produziu “peças memoráveis” como proibir a execução de rock em bailes – quando governador de São Paulo – e o uso de biquínis e maiôs por misses – quando presidente da República. Há algum tempo, tivemos notícia de que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, proibiu gritos nas feiras-livres da cidade. Depois, voltou atrás e disse que o erro de interpretação foi ocasionado por causa de uma vírgula mal colocada: “Minha assessoria identificou uma vírgula, uma expressão mal colocada. Pedi que reformulasse”, afirmou. “Sou contra essa proibição (…) O grito está liberado, confio no bom senso dos feirantes em respeitar as pessoas que moram ao redor das feiras” .      Ao contrário do que disse (ou não) Pelé, que “brasileiro não sabe votar”, creio que a eleição dessas “peças” ocorre porque o cardápio das candidaturas raramente oferece boas opções. Anos atrás, em Friburgo, o pleito para prefeito não apresentava pretendentes de bom nível. Instalou-se, então, a onda do “ruim por ruim, voto no pior”. Ganhou o pior. Confirmando a fama, o pior realizou uma péssima administração e o castigo chegou a cavalo: para que as eleições em todos níveis passassem a ter uma data coincidente, seu mandato foi prorrogado por mais dois anos…  Só a confirmação dessa tese pode explicar a presença do José Luiz Rodrigues, o “Zé Louquinho”, como prefeito de Aparecida (SP). No final do ano passado, o prefeito enviou à Câmara dos Vereadores um projeto de lei, em que o primeiro artigo dizia: "Fica terminantemente proibida a ocorrência de enchentes nos bairros da cidade provocadas em razão de chuvas fortes, chuvas de granizo, tempestades com raios, vendavais e cheias no rio Paraíba do Sul e seus afluentes no município".  A proibição do prefeito me faz lembrar de uma histórica pergunta atribuída ao Garrincha após ouvir as complicadas instruções do técnico do Botafogo para ganhar uma determinada partida: “Tudo bem!. A gente pode tentar fazer a nossa parte. Mas, e o resto? Já foi combinado com o adversário?” Á dúvida pode estar se aplicando perfeitamente ao decreto do “Zé Louquinho”.

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