HÁ SINCERIDADE NA GUERRA CONTRA OS GRAMPOS?

     É verdade que numa autêntica democracia devem ser preservados os direitos não só à privacidade quanto à liberdade de expressão e outros. Curiosamente essa história dos “grampos” só ganhou maior destaque a partir de quando o Presidente do STF denunciou que haviam colocado escuta no telefone do Gabinete dele. Não se pode aprovar uma disseminação de escutas, ou grampos, seja por quem for, de forma a transformar a vida de muitos cidadãos num verdadeiro BBB real. Aliás, tal atividade só se torna legal se autorizada pela Justiça, e essa deve ter um discernimento suficiente para não transformar tal recurso em um carnaval desenfreado de escutas a tirar a privacidade de qualquer pessoa sem terem maiores justificativas para isso. Se a escuta não tiver autorização da Justiça, mesmo que seja usada pelo Ministério Público, ou pela Polícia Federal, é um crime. Todavia assusta-me a possibilidade de que esta grita geral contra os grampos possa levar a uma retração tal, de forma que de repente a própria Justiça recue em iniciativas necessárias ao bom desempenho seja da PF como do MP em investigações importantes. Vi e ouvi na TV a reação de políticos de todos os partidos, no Congresso, aumentando a “onda” contra os grampos. Muitos eram taxativos no reprovar o uso desse recurso. Estariam todos sendo sinceros?! Estariam todos realmente preocupados com os princípios fundamentais de nossa Democracia?! Pode ser, mas julgo que deva haver controvérsias sobre esse pensamento aparentemente e calorosamente democrático. Uma repentina reação em cadeia pode provocar que os mais poderosos, chamados de “colarinho branco”, nunca cheguem a julgamento e muito menos possam vir a ser condenados à dita cuja. Sabemos o quanto de políticos também estão devendo à justiça desde muito antes  de quando estourou o escândalo do “mensalão”. A partir daí quantos escândalos foram ficando pelo caminho sempre com o foco voltado para outro que surgia depois?  Estavam em evidência atualmente diversas pessoas do mais alto escalão da sociedade do “colarinho branco”, segundo investigações que começaram com escutas de conversas denunciadoras. Tanto a Polícia Federal como o MP estavam, ou ainda estão, atuando em equipe para tentar fazer uma “faxina geral” e levar a julgamento cidadãos que enriquecem ilicitamente. Conseguirão? Não sei. A reação vem, como devem estar acompanhando, justamente tanto dos que devem como de pessoas que, de uma forma ou de outra, atuam sempre em defesa dos “direitos” dos ilustres personagens denunciados que ostentam “colarinho branco”. E esses têm sempre muitos defensores, e como têm, em escalões os mais variados desta sociedade aturdida que vê o erário público ser assaltado sem nenhuma cerimônia e impunemente. Neste caso nem dá para seguirmos a sugestão antiga de Chico Buarque que cantou: “Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão…” Nossa preocupação tem muita razão de ser, pois de repente não se ouve mais falar naqueles que estavam a ser investigados, denunciados, enquanto nossa torcida para chegarem à verdade e a resultados positivos que mereçam nossos aplausos passa à posição de desconfiança com relação aos muitos “ataques democráticos” contra os grampos, as escutas e afins.  Ainda ontem à noite eu ouvia, pela CBN, certo analista, professor de Economia, serenamente afirmar que, neste país, roubos de milhões e milhões de reais ou de dólares têm ficado impunes historicamente. E se eventualmente algum escroque do colarinho branco vier a ser condenado, no máximo pega pena de uns dez anos. Mas não comemorem, não, primeiro porque é “se” e depois pelas manobras legais. Disse ele que em sendo aprisionado, o que já seria algo a comemorar, com bons e “espertos” advogados, poderiam ficar no máximo uns 3 a 4 anos presos e, por bom comportamento, ganhariam logo a liberdade.  Isso se a nossa justiça não decidir que deva aguardar em total liberdade, como já o fez recentemente, que todos os recursos a que o escroque tem direito sejam analisados e tenham uma sentença definitiva. Significa, lógico, que mesmo denunciado e condenado, poderá “cumprir a sentença” em liberdade. Este é mesmo o país da ficção, não científica, mas constitucional e jurídica. Ou não? E depois ficam determinados magistrados e eminentes políticos a endereçar suas críticas e admoestações para a Polícia Federal e para o Ministério Público. Mais triste é ver que haja quem aplauda. Falei, escrevi, e me recolho à minha insignificância literária e patriótica. 

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