JOÃO CARLOS MARTINS, AS SUPERAÇÕES

    Na semana passada dia divulguei uma crônica na qual eu cumprimentava o Ronnie Von por ter levado no mesmo programa tanto o brasileiríssimo ícone da música regional, o Pena Branca, como o magistral pianista João Carlos Martins. Naquele texto falei em detalhes sobre tudo a que assisti durante o programa. Quanto ao nosso pianista clássico, internacional, fiz referência à sua tenacidade, à sua superação digna de muitos aplausos, sempre.  Entre os comentários que recebi sobre aquela crônica, como é de hábito acontecer, me veio um muito entusiasmado de um grande amigo de longa data com quem tive a honra de trabalhar no Banco do Brasil e na presidência da PREVI, do BB.  Amaro é um amante da música clássica, como eu o sou desde criança por influência do meu saudoso pai português. Freqüenta muitos concertos e é também fã não só do talento do nosso bravo João Carlos Martins como se emociona com a capacidade de superação deste que serve de exemplo, dos melhores, para muita gente que se queixa da vida por qualquer coisa.Sei que vou levar um puxão de orelhas do meu amigo, mas ele merece ser citado nominalmente, sim. Já colaborou e muito comigo tantas vezes no passado quando eu retornava a escrever, como outros poucos o têm feito também. Desta feita ele, no comentário que fez sobre o meu texto, incluiu informações muito valiosas. A primeira foi esta: "um belo dia, quando despontava para a fama internacional, eis que numa pelada no Central Park o João Carlos cai em cima de uma pedrinha, batendo nela com sua mão e fica impedido, por anos, de tocar piano."  Pelo que entendi este foi apenas o primeiro dos problemas que o nosso grande pianista teve que enfrentar em sua carreira nesta vida cheia de surpresas. Logo a seguir o amigo Joaquim Amaro me contou:"Recupera-se e reinicia a carreira de sucesso gravando toda a obra de Bach. Mas eis que ao sair de uma gravação na  cidade de Sofia, na Bulgária, ele é assaltado, leva com uma barra de ferro na cabeça e depois de quase morrer perde os movimentos das mãos.  Mais uma luta que se estendeu por anos." Claro, amigos, que nosso brilhante pianista teve que passar por cirurgias. Foi com o auxílio dos médicos que João Carlos precisou mudar a forma do seu cérebro comandar os movimentos. Já se vê o quanto de coragem e determinação foram necessárias para enfrentar mais uma superação e não desistir de sua arte. Tempos depois ele pode retornar aos concertos com o talento e o sucesso de sempre. É, mas a vida preparava mais surpresas, dificuldades e impedimentos para, talvez, sei lá, testar suas já mais do que evidentes tenacidade e superação. O fato é que um belo dia, mais pra frente, surgiu-lhe novo problema em um dos tendões, creio que na sua mão direita. Acreditem, mais uma vez o nosso João Carlos se viu na iminência de ter que parar de tocar piano novamente, afinal o que mais gostava de fazer na vida. Como afirma meu amigo, isto surgiu em meio a outras cirurgias, tratamentos, etc.  Como não tivesse conseguido recuperar os movimentos da mão direita, ele passou a executar peças para piano usando apenas a mão esquerda. Sempre muito aplaudido, prosseguiu com este esforço, quase sobre humano, procurando com a mão esquerda suprir a impossibilidade de usar a direita. Então, outro problema surgiu. O amigo Amaro assim se expressou:"E, então, ufa!!!, o mal da mão direita passa para a esquerda… mas o nosso herói não desiste, não se desespera, passa a estudar regência e conduz orquestras. Além de ser um grande homem, um grande papo, é uma simpatia." Na crônica passada realcei também a informação que o João Carlos Martins dera sobre sua atuação na periferia de S. Paulo junto a jovens e crianças, levando sua experiência de vida e seus ensinamentos como um grande mestre, que também o é. Lembrei-me agora que num dos programas de TV em que deu entrevista ele contou exemplos de vida emocionantes, mas vou realçar apenas este: na Faculdade, um menino a quem ensinava música, certa vez lhe pedira dez reais, pois nada tinha para comer em casa.  A seguir, visivelmente emocionado, João Carlos acrescentou: "Imaginem que dois anos depois aquele menino estava no meio da Orquestra a tocar num concerto no Carnegie Hall, em Nova York em que eu também tocava piano."  — Apenas um de tantos exemplos de vida que o nosso exímio pianista já deve ter presenciado graças à sua dedicação no abrir-lhes novos caminhos com os seus ensinamentos. Amigos, é muito fácil falar-se mal de um país por tantos maus exemplos que geralmente vêm de cima como sabemos que ocorre por aqui e à nossa volta. Todavia, quando atingimos o povo deste país lançando sobre seus ombros as mazelas tantas como corrupção, jeitinho brasileiro, entre outras referências ofensivas aos brasileiros em geral, estamos sendo desrespeitosos com pessoas como João Carlos Martins, Nelson Freire, Arthur Moreira Lima, entre outros. Muitos brasileiros merecem de nós todas as reverências, seja na música, clássica ou popular, como no esporte, especialmente nos olímpicos que não raras vezes ganham medalhas importantes, e mesmo em mundiais de ginástica pelo mundo afora, alguns sem qualquer apoio oficial. Cantores líricos brasileiros fazem sucesso na Europa e só descobrimos por acaso, eventualmente. A mídia não divulga.Voltando ao meu amigo Amaro, ele encerrou sua mensagem com essas palavras: "O Homem (João Carlos Martins) é fantástico.  Por isso é que busco por todos os meios o DVD documentário sobre sua vida, mas não o tenho encontrado."  Quem sabe, meu bom amigo, alguém que esteja a me ler não saiba como deves fazer para conseguires aquele DVD, com certeza valioso por demais. Se eu descobrir o receberás de presente. Tu mereces. Não percamos a esperança.  E por falar em esperança, vou encerrar com uma das rápidas e emocionantes histórias que ouvi João Carlos Martins contar na TV, creio que no programa do Faustão. Disse ele: "Uma das coisas que mais me emocionaram até hoje foi quando eu terminara de fazer uma regência com meninas cegas e ao encerrar uma delas veio a mim e falou – "Maestro, a gente vê tudo com o coração". 

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