MARIAS E JOÕES

     Aqui no trabalho organizamos palestras para universitários e as inscrições são por telefone. E para verificar como vão os meus profundos estudos sobre a procedência dos nomes exóticos, de uns tempos para cá, passei a fazer uma brincadeira com os alunos sem que eles soubessem do meu hobby. Quando da solicitação dos dados, ao chegar  no momento de informarem aonde estudam, peço uma pausa e digo-lhes que vou adivinhar-lhes a procedência universitária. Se o nome do interlocutor for do tipo Crizilene, Landry Ivo, Wanderson Eller, Hanielen, Missielen, Hendson, Sulaine, Luan Alan ou Moiselita, não tem erro, são originários da Unigranrio em Caxias, na baixada fluminense. O mais engraçado é que eles perguntam: como é que você sabe?Existem os “tiros n’água”: telefonou uma certa Patrícia Cristina e, sem nenhum motivo ou indício,  tentei adivinhar-lhe a universidade: – Você estuda na UFRJ, na Urca, não é?- Errou! Estudo na Unigranrio. – Em Caxiiiias?. – Não! Estudo no campus Lapa, no centro do Rio. – Ah bom! “Agora, você explicou! O pior é que essa minha fixação contaminou os demais membros do setor: para dissipar a dúvida sobre quem era o compositor de uma determinada música clássica, surgiu o esclarecimento vindo lá do fundo da sala em voz alta:- IORRAM SEBASTIAN BÁ (Johann Sebastian Bach)  – Uma segunda voz perguntou no ato: Com esse nome, adivinha aonde ele estudou?- E todo os gozadores  em uníssono: Na UNIGRANRIO de Caxias!  Por falar em nomes exóticos, mesmo que já estejam ficando fora de moda, ainda dá para abordar sobre os que surgiram nesses tempos de mensalões, Dirceus e Severinos. Se bobear, merece até uma CPI. Olha só: Agripino; Asdrúbal;  Efraim; Genoino; Idely Salvati; Mabel;  Maguito; Pauderney Avelino;  Sigmaringa, Zulaiê Cobra e “otras cositas más”.  Por falar nisso, duas perguntinhas que não querem calar: 1) você compraria um  carro usado daquele  deputado gaúcho metido a ser mais macho e inteligente do que todo mundo, cheio de gel na peruca mal implantada, chamado Ônix Lorenzoni? 2) Quantos gatos traiçoeiros você conhece que foram alcunhados de Delúbio? Mas, mesmo com esses edificantes exemplos “ainda há Joões e Marias avaliando, descrentes, que a crise não deu contribuições relevantes à nação, que é tudo história de bandido, um lamaçal sem fim, etc. São uns insensíveis. Que outro evento político presenteou o país com tão republicana lista de nomes inesquecíveis? Pode-se dizer tudo da baixaria de mensalões e mensalinhos, menos que falta criatividade no batismo do elenco.  O começo foi promissor, com Roberto Jefferson. O agora ex-deputado até se rendeu ao destino cantor-de-bolero traçado na certidão de nascimento e, além dos discursos-bomba, faz tremer as instituições ao som das performances mais desafinadas. Surgiu, em seguida, Marcos Valério, que preferiu a sombra do poder ao sucesso na carreira de galã de novela mexicana prometida no nome (culpa da careca radical, especulam os mais venenosos). O tal operador do mensalão nadava de braçada entre os poderosos, até surgir uma secretária magrinha e de óculos chamada… Fernanda Karina! Nome de mocinha de radionovela, foi na CPI, abriu agenda, cogitou posar nua e, no fim, virou arroz-de-festa nos programas de fofoca da TV. A passos largos no caminho de volta ao anonimato, achou sua vocação. O desenrolar da crise tornou célebres outras mulheres. Surgiu Jeany Mary Corner, a “fornecedora de recepcionistas” cujo caderno de telefones provocou palpitações em lares respeitáveis, Planalto Central afora. Com ela, apareceu Karla Cristina – assim, com “k” – por quem Rogério Buratti, o ex-assessor de Palocci, encantou-se à primeira vista e se casou imediatamente. Mesmo a sisuda Polícia Federal turbinou a salada, com o delegado Luiz Flávio Zampronha, que investiga o caixa dois do PT. E  depois, veio a cereja do bolo – Gabriela Kênia, a do nome no cheque que atropelou Severino.” Para completar, só faltava um repórter usando seu nome verdadeiro, ainda que pareça pseudônimo, para escrever uma matéria abordando essa questão dos nomes. Faltava! O nome do articulista da parte do texto que está em itálico é Aydano André Motta, do jornal O GLOBO.

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