MARTA SUPLICY

    Ela é dona de fulgurantes olhos azuis; elegante; linda; culta; inteligente; antenada; rica; filha de família quatrocentona; mansão no Morumbi; apartamento em Paris; avó duas vezes de filhos dos seus três filhos; carreira política consolidada; comandante urbana de 10 milhões de habitantes (população idêntica a de um Portugal inteiro). Ser a pioneira na abordagem de temas até então proibidos na TV é o mínimo que se pode dizer de Marta Suplicy. Com luz própria é hoje a prefeita da maior cidade brasileira. Entretanto, Marta é, sobretudo, uma mulher que, completamente realizada profissionalmente, preferiu seguir as palpitações do seu coração e, com coragem impar, arriscar tudo o que a vida lhe proporcionou, para viver uma arrebatadora paixão por um franco-argentino, cidadão do mundo, saído do quarto casamento. Aos 58 anos, decidiu viver o tempo que lhe resta ao lado de quem ama, exorcizando a idéia de passar esse mesmo tempo ao lado de quem já deixou de gostar. No entanto, é estranho que, por mais especial e reluzente que seja, Marta Suplicy não goze de prestígio com a imprensa. Destacam-lhe os supérfluos e escondem-lhe o essencial. Todas as notícias antes e depois do seu segundo casamento comprovam a afirmação do parágrafo acima. A preocupação foi apenas de revelar detalhes do festão, sem nunca deixarem de alfinetar a posição assumida pelos noivos de não permitir – numa festa íntima e particular – a presença da imprensa junto aos 200 seletos convidados e seus acompanhantes para assistir a cerimônia. E não deixaram por menos: descreveram que o palco e a capela do casório, erguidos especialmente para a ocasião, tiveram como cenário um lago habitado por muitos marrecos. Informaram também que, do alto de uma escada, Marta e Luiz Favre desceram para o almoço concebido em clima campestre, num clima de “E O Vento Levou”. Detalharam que tutu à mineira, leitão à pururuca e picadinho foram, ao lado dos vinhos argentinos, os pratos de resistência do almoço. Descobriram até que Marta viajou uma semana atrás para Buenos Aires para provar o vestido cru como o chapéu, da grife francesa Nina Ricci, em tons pastéis, inclusive nas flores do tecido que lhe prenderam o cabelo. Informaram que o penteado foi feito por Celso Kamura. Mas esqueceram de dizer que esse mesmo cabeleireiro foi quem a preparou para o célebre debate televisivo em que mandou, com toda autoridade e dedo em riste, o eterno suspeito Paulo Maluf, “calar à boca”, levando junto toda a sua arrogância.Os temas preferidos da mídia são os seus terninhos Christian Dior ou Armani, que vão de R$2.500 a 5 mil, o “look Kenzo” a R$10.000 ou a cirurgia com Ivo Pitangui. Nem uma palavra sobre a decisão de aumentar o IPTU dos ricos e isentar 800 mil pobres. Há um silêncio sobre a distribuição de uniformes, mochilas e sensível melhora na merenda escolar de um milhão de crianças. Os órgãos de imprensa ignoram a criação de 21 CÉUS, escolas de filosofia dos CIEPS, nas zonas da cidade longe de tudo, se bobear até de Deus.Sobre sua luta pelos direitos da mulher não cansam de lembrar de que ao exercer o primeiro mandato em Brasília exigiu e conseguiu banheiro privado para as mulheres. Mas, omitem o motivo do pedido: quando perguntada do por quê disse apenas: “por que, menstruamos, ora”. A VEJA, em 2002, extrapolou nos detalhes: levantou que a prefeita nos seus treze primeiros meses de governo foi fotografada em 130 aparições, sem que, em nenhuma dessas ocasiões, tivesse repetido a roupa. Catalogaram 30 terninhos, 16 tailleurs, 10 vestidos e 30 colares. No entanto, em nenhuma matéria sobre prefeituras, informou que Marta Suplicy, pioneiramente, foi a única autoridade que meteu a mão na cumbuca da “máfia” dos transportes e tirou dos vereadores, ao criar 31 subprefeituras, a oportunidade de lotear os bairros paulistanos ao seu “bel prazer”.Como se não bastassem todas essas qualidades, Marta Suplicy possui um dom raramente encontrado em políticos: “simancol”. Na festa preservou os ouvidos dos seus convidados não escalando para “levar um som” os seus próprios filhos: o roqueiro Supla e o MPB João. Mas houve alento para todas almas. A música do DJ conseguiu flutuar sobre todos os chãos: foi do coro dos monges beneditinos à Bossa Nova, sem deixar de passar por Mozart ou por Fortuna, cantora judia. Este é o estilo Marta de ser. O de causar inveja em muita gente.  

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