MEMÓRIA DO RÁDIO

    Quem me lê sabe que o rádio sempre foi, e é, uma das paixões da minha vida. Já disse isso várias vezes. Sou dos que ouvem rádio igual ou mais do que a maioria vê TV. Tenho na cabeceira da cama dois rádios de pilha. Um deles permanece sintonizado em freqüência modulada na excelente rádio MPB – FM – 90.4. O Outro fica sintonizado em AM na Rádio CBN. À noite, quando deito, ligo um ou outro, porém acabo mesmo adormecendo com o som de FM da MPB. São muito raras as emissoras que hoje me agradam. Digo isto para contar que aos domingos, quando acordo, geralmente mudo a sintonia de AM para a tradicional Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Explico: gosto muito do programa “Rádio Memória” apresentado pelo radialista Gerdal dos Santos. Ele costuma apresentar verdadeiras jóias musicais, resgatando um passado excelente de nossa mpb a que outras emissoras simplesmente viram as costas. Afinal, como dizem, o Brasil vive a querer confirmar a pecha de uma nação desmemoriada. Felizmente não somos todos iguais nesse comportamento. No domingo, dia 04/fevereiro deste ano, grande parte daquele programa foi dedicado à memória do nosso saudoso mestre Antonio Carlos Jobim. Acompanhei alguns poucos programas de TV que tiveram a mesma atitude, a grande diferença é que em nenhum deles falou-se com clareza do começo da carreira do Tom Jobim. No “Rádio Memória” o produtor e apresentador teve o cuidado de mostrar o que ninguém exibe: as primeiras canções do mestre, a maioria gravadas nos anos 50. Orquestras antigas, cantores que nunca eu soube haviam cantado Jobim, uns já se foram desta vida, outros aí estão, cantando ainda, ou não. Outro detalhe muito importante que o apresentador repetia com muito orgulho: sabiam que foram músicos e intérpretes do cast da mesma Rádio Nacional que, naquele tempo, cantaram e ajudaram a divulgar o nosso Tom, ainda jovem, no início de sua carreira? Você sabia disso? Matei saudade, por exemplo, de Dalva de Oliveira, mãe do excelente Peri Ribeiro, interpretando uma das canções de Jobim que eu nunca ouvira tocar antes. Assim outras tantas páginas musicais da primeríssima fase do nosso Jobim Brasileiro. Sabiam que a primeira gravação de “Se todos fossem igual a você” se deu no ano de 1956? Sabiam também que o próprio jovem Tom fez o arranjo incluindo a Orquestra com músicos da Nacional e um excelente coro, também da emissora? Mais: quem teria regido a orquestra naquela primeira gravação desta jóia preciosa do talento de Jobim? Pois é, foi ele mesmo quem a regeu. Tive a satisfação e a honra de ouvir esta gravação naquele domingo. E saibam, amigos e amigas, que logo a seguir ao programa “Memória do Rádio”, ali pelas 10 horas, sempre aos domingos, entra outro de excelente nível, ou o “Histórias da MPB”, apresentado por Osmar Frazão. Vale a pena se manter sintonizado e, além de boas músicas, ouvir tantas histórias do rádio. Infelizmente hoje em dia emissoras que atuam em freqüência modulada, ou FM, não têm o cuidado de zelar por sua programação, como historicamente acontecia. Algumas conseguem se colocar em nível inferior, quanto à qualidade das músicas e da própria comunicação dos seus apresentadores, ou comunicadores, a algumas rádios de AM. Uma lástima. Há raras exceções para quem tem bom gosto e sensibilidade auditiva e uma delas é a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Todavia para quem apenas se liga em TV, para quem gosta de ver, ouvir e pouco pensar, escutar rádio deve ser, digamos, uma chatice. Não vou polemizar, porém afirmo que mesmo com todo o avanço da tecnologia da TV é o rádio que, invariavelmente, chega sempre na frente, especialmente no comunicar algum fato que esteja ocorrendo em tempo real. Mas eu queria mesmo, hoje, era lhes dizer da minha satisfação de ter despertado, naquele dia 04/fevereiro, domingo, ouvindo jóias ainda mais raras do nosso mestre Jobim porque quase nunca divulgadas. Isto graças à Rádio Nacional e ao excelente radialista Gerdal dos Santos. Parabéns e os meus efusivos aplausos.

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