MUDANÇA NOS ESTIGMAS

             Até hoje tem gente que culpa o goleiro Barbosa pelo segundo gol uruguaio e a conseqüente derrota do Brasil na final da Copa de 1950, em pleno Maracanã.  “Goleiro preto não presta”, foi o estigma que o perseguiu pelo resto da vida. Durante pelo menos quarenta anos os goleiros nos clubes e na seleção brasileira eram todos da cor branca. Só a partir dos anos 90 é que o panorama mudou.          Por muito tempo ser identificado como artista ou jogador de futebol era sinônimo de vagabundagem. As tradicionais famílias não aceitavam a união de seus membros com qualquer membro da classe artística, fossem eles atores, poetas, pintores ou escritores. Se fosse artista de circo então… (acho que até hoje). A mesma discriminação acontecia com os futebolistas. Mas, como no Brasil, tudo é avacalhado com o tempo, artista virou “celebridade” e futebolistas “figuras pública”.           O olhar de admiração que pairava sobre os médicos e os juízes como sendo seres de outro mundo pelo poder de cura e pela autoridade que impunham, sofreu uma grande guinada. Debaixo da toga que protege os juízes foram descobertos os favorecimentos, vendas de sentenças e outras falcatruas. O “juiz ladrão”, que só aparecia nos estádios de futebol, passou a ser encontrado também nos tribunais, após a derrocada do juiz “Lalau”. Os médicos abandonaram o juramento de servir a qualquer hora e a qualquer preço e estão estigmatizados como frios e caros comerciantes, disponíveis apenas nos horários comerciais dos dias úteis e sob comissões recebidas de laboratórios, redes de farmácias e clínicas de exames.          Tempos atrás o sonho das famílias era formar o filho em advocacia e/ou casar a filha com um bacharel em direito. Com as faculdades jorrando fornadas de diplomados todos os semestres já há famílias que torcem o nariz. Afinal, poucos são poucos os bacharéis em direito que se tornam advogados (a OAB que o diga). A maioria ganha o estigma de ADEvogado.          Meu interesse por política coincidiu com o golpe militar de 64. Dizia-se que todo político era ladrão. A imagem que tínhamos era de “suas excelências”, simplesmente abrindo o cofre oficial, enchendo valises com cédulas e levando para casa na maior “cara de pau”.          O assalto aos cofres públicos modernizou-se e ficou sofisticado. Rouba-se traficando influência, vendendo-se informações privilegiadas, promovendo licitações fraudulentas e criando-se empresas fantasmas em nome de laranjas para lavar o dinheiro ilícito.            Hoje as imagens dos políticos recebendo propina dão ar de “batom (dinheiro) na cueca” nas denúncias, mostradas em rede nacional de TV em horário nobre. O problema é que as punições cabem aos seus pares para quem nenhum flagrante, documento, revelação ou acusação se sobrepõe a palavra de “suas excelências”, mesmo sendo elas do tipo “a assinatura é minha, mas não fui eu que assinei”, ou “na época eu não era parlamentar”…           Mas,o advento das imagens do “propinoduto” não foi  ruim para os políticos. Eles passaram de ladrões a corruptos.  Em termos de imagem pública, a sonoridade do termo corrupto, choca menos do que o de ladrão.

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