NOME POMPOSO

                Na minha infância, nos sábados à tarde, eu ficava ouvindo o César de Alencar dizer na Rádio Nacional que a próxima atração do seu programa possuía “cabelos lisos, era lourinho e tinha olhos azuis”. E anunciava: BLECAUTE!  Sem nunca tê-lo visto, imaginava-o com o tipo físico do futebolista inglês David Beckham, caso comparado a alguém em evidência atualmente. Mas, uma de suas fotos desmoronou o meu imaginário: Blecaute possuía uma boca imensa, sorriso que não escondia a dentadura, cabelo pixaim “amansado”, tinha olhos e pele muito negra.             Mesmo com essa decepção, já contei aqui que conservo a mania de me impressionar com determinados nomes de pessoas, mesmo nunca as tendo visto sequer em fotos.            Quando times brasileiros iam jogar contra equipes espanholas ou italianas eu entrava em pânico. Do lado espanhol, elegi como meu arquiinimigo um sujeito cujo nome me fazia crer que era capaz de jogadas dignas do Pelé: “Del Sol”. O outro era um argentino que jogava na Itália, que só pelo nome, “S ivori”, eu julgava ser um “cracaço” imarcável. Quando os vi em fotos, o espanhol baixinho e meio careca e o ítalo/argentino de cabelo espetado e rosto comum, meus medos sofreram uma desvalorização de pelo menos 80%.             Ao saber do clã Sinatra, passei a ver os filmes onde atuavam os seus componentes. O último a quem assisti atuar foi o Sammy Davis Jr., que, por causa do nome, imaginava ter uma estampa digna do Tony Curtis. Quando vi aquele pretinho, baixinho, bigodinho do Cantinflas, bocarra, queixudo e cabelo do Blecaute, fiquei sem saber os motivos que ele tinha para freqüentar a  famosa turma, composta de lindas mulheres e de maioria de atores “boa pinta”.            Como a Elis Regina “está viva”, não presto muita atenção em novas intérpretes. Mas de tanto ouvir uma cantora de nome pomposo, fui ver quem era imaginando-a como uma mistura física da Shakira com a Beyoncé. Todavia, suas fotos me decepcionaram: baixinha, macérrima, nariguda e com visual de prostituta decadente. Refiro-me Amy Winehouse.            Mas, existe o reverso da moeda: em Friburgo há uma daquelas “peças raras”, apreciador de “umas e outras”, conhecido apenas pelo apelido da marca da bebida que é mais chegado. Muitos anos atrás, perguntei seu nome de batismo: “Pedro Américo de Aguillar”, respondeu ele, enfatizando os "eles". Perguntei-lhe, então, por que não pedia as pessoas para o chamarem por aquele nome de família nobre? E ele: “Porque não gosto do meu nome. Prefiro que me chamem pelo apelido de “Jurubeba”.          Para arrematar. Estava assistindo o programa “Fora do Eixo”, na TV fechada, quando o repórter abordou um jogador de um time lá do nordeste: “Você tem um nome pomposo! Qual é a origem dele? O jogador respondeu: “é que no dia em que foi me registrar, meu pai, no caminho para o cartório, “bateu o ponto” em diversos bares para tomar “umas e outras”. Dessas paradas é que veio a inspiração para me chamar de *Underberg!* Underberg é o nome de uma bebida (fernet) que mistura álcool, água e ervas nacionais.

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