O CANDELABRO ITALIANO

    Em janeiro, ao ler o segundo caderno de "O Globo", tomei três sustos de uma vez só: o primeiro, por ficar sabendo da notícia da sua morte. O segundo,  por constatar que havia esquecido completamente dela e o terceiro porque,  ao ver sua foto, aos setentas anos, percebi que ela não havia apenas envelhecido: estava deformada.  Estou falando de Suzanne Pleshette, heroína romântica de toda uma geração e estrela de um filme de sucesso arrebatador: "O candelabro italiano", cuja lembrança, pensei, daria um belo tema para uma crônica.  Mas, o Artur Xexéo, sempre na frente, na quarta seguinte, escreveu no Globo  sobre o assunto. Mesmo assim, como diria o João Saldanha: – "Vida que segue".  O "Candelabro italiano", data de 1962, época em que os controles de bilheteria não eram exatos, portanto, sem registro do número real de espectadores. Mas, aposto que é uma das maiores bilheterias do cinema de todos os tempos. Além de ter ficado em cartaz por mais de um ano, todo jovem daquela época assistiu ao filme pelo menos umas três vezes, mortos de paixão pelo par romântico da película: os "meninos", pela Suzanne Pleshette e as "meninas", pelo Troy Donaheu. E muita gente pelos dois.  O retumbante sucesso da fita, um romance "água com açúcar", não possui muita explicação: cansada da monótona New England, a bibliotecária Prudence (Suzanne Pleshette) parte para Roma, em busca de aventura e romance. Envolve-se com um arquiteto de sua idade (Troy Donahue), e um galanteador mais velho (Rossano Brazzi). Os dois jovens se apaixonam e iniciam uma viagem pelas mais belas paisagens do norte da Itália, até que Prudence descobre existir uma outra mulher, uma condessa (Angie Dickinson), na vida de seu novo amor. Desiludida, ela volta para casa. E aí… É claro, no final, viveram felizes para sempre.  Segundo o Xexéo a explicação para "estouro" do filme foi que, naquela época, o único jeito de se conhecer a Itália era através do cinema. E o país nunca foi tão bonito. Não era o preto e branco da "La Dolce Vita" de Fellini, da Via Veneto, dos paparazzi, e nem da Anita Ekberg banhando-se na Fontana Di Trevi. Era uma Itália feliz, com uma paisagem estonteante e colorida, florida e sempre ensolarada.  O cronista, também achou que o argumento, ousado para os anos 60, por mostrar que o mocinho (Donahue) era gigolô da condessa (Dickinson), colaborou para o sucesso. Pode ser. Mas, não lembrava disso.  O que tenho certeza é de o tema musical, "Al Di La", com Emilio Pericoli, foi decisivo para o sucesso entre os jovens: era a época dos "arrastas", festinhas familiares em que os móveis das salas eram afastados para que o espaço aberto se transformasse em pista de dança. E "Al di La" era repetida sem parar.  Mesmo com a canção inspirando a proximidade dos corpos, só lá pelo fim do baile é que se via casais ousando colar os rostos.   De acordo ainda com o cronista, "O Candelabro Italiano", ainda estava em cartaz (um ano depois)  quando Suzanne Pleshette apareceu em "Os Pássaros". Este nem tinha saído dos cinemas quando estreou, com ela, os "20 Quilos de confusão". Todos os filmes foram sucesso, ela não. Poucos anos após a vi, junto ao Troy Donahue, em "Um Clarim ao longe". Um faroeste sem repercussão. Depois foi para a TV. Mas, sob à minha vista, sumiu.    O "Candelabro" e Suzanne são uma coisa só. Um não teria sido sucesso sem o outro. E tiveram a mesma trajetória: apesar das tentativas ao contrário, depois que filme saiu de cartaz, não se viu mais os dois nem na programação das madrugadas das TV s. Caíram no ostracismo, sem nenhum merecimento.    

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