SOBE?

    Possuo duas motivações para ler o Carlos Heitor Cony: uma é que o considero  junto ao Veríssimo, como os melhores cronistas brasileiros: textos curtos, objetivos, simples e inesgotável variação.  A outra é que as leituras dos  seus escritos de vez em quando me rendem assunto.  Cony contou que ao entrevistar o maestro Francisco Mignone, por ocasião dos  seus 80 anos, perguntou-lhe sobre seu compositor favorito ao longo de tão longa vida. O maestro disse que foi mudando com o tempo. Aos 30 anos, respondia que gostava de Beethoven. Aos 50, a resposta era Bach. Mas, aos 60, quando não devia mais nada a ninguém, respondia com a verdade que escondera durante tanto tempo: Puccini.  A justificativa era de que ao iniciar a carreira de compositor ele ficava constrangido em confessar sua preferência por um autor de ópera italiana. E aí, "trovejava" os grandes nomes que fizeram a glória musical da Europa Central.  Pulou da música para a mulher para contar que conhece um sujeito que já foi vidrado nos olhos da Liz Taylor, nos seios da Sophia Loren e que só recentemente descobriu que a atração maior de seu desejo eram os braços. Outro dia, encontrou-o no meio da rua, parecia encantado, fora do mundo. Perguntou o que havia: E o homem luxurioso: "Vi uns braços"!  Lendo a crônica, conclui com os "meus botões" que a minha preferência ao longo dos anos pelos dotes femininos também andou mudando.    Na adolescência, curtia as pernas femininas. Dos tornozelos até as coxas. Só que, naquela época, a única maneira de ver coxas das mulheres desnudas era nas piscinas, em um ou outro dia de sol dos verões de Friburgo. O jeito era ficar embasbacado diante das fotografias das misses Brasil, Marta Rocha, Adalgisa Colombo e, principalmente, Terezinha Morango.    Depois, subi para os seios. Permanecia "horas" imaginando o que poderia estar por trás dos decotes mais ousados de fotos da Sophia Loren, da Virna Lisi ou da Claudia Cardinale.  Permaneci indeciso entre coxas e seios até 1986, quando vi que era um estranho no ninho dos homens por não sucumbir aos encantos da Maitê Proença que, interpretando a Dona Beja, na TV, tomava banho nua na cachoeira. Meu deslumbramento era com a coadjuvante, Nina de Pádua. Quando a vi sorrindo e notei que o canto direito do seu lábio inferior era mais acentuado do que o esquerdo, percebi que havia mudado de fetiche. Pelo mesmo atributo, ultimamente, andei me fixando na Alessandra Negrini, na Camila Morgado e pela bandeirinha de futebol Ana Paula Oliveira (já contei isso aqui). O defeitinho só é perceptível para experts.  Outro dia, me surpreendi numa sala de espera de dentista, de maioria feminina, prestando atenção nas mãos das mulheres! Se bonitas, finas, cuidadas, a cor do esmalte, esses detalhes. Após isso, preocupado, constatei que o gosto pelas partes femininas subiu e desceu proporcionalmente à minha energia sexual. Cultuo a esperança que passe a admirar um joelho bem torneado, ou um bumbum arrebitado. Mas, e se depois das mãos, vierem os pés? Significará a "aposentadoria" ou o "viagra" permitirá algum tempo ainda no pleno exercício da função?

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