O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte I

    A partir de hoje e durante algumas crônicas, decidi fazer algumas revelações que apenas pessoas muito íntimas conheciam. Nada direi que não corresponda à verdade, absolutamente, assim como nada acrescentarei que leve minha narrativa para caminhos ficcionistas. Tudo é real.  Eu era jovem, vivia um primeiro e atormentado casamento que acabou em três anos. Certo dia minha primeira esposa me solicitou que tentasse convidar o Sr. Ferreira Gomes para conduzir uma reunião espírita na casa da mãe dela. Maria procurava caminhos que pudessem salvar uma união já deteriorada, mas afirmava sempre ser eu o responsável pelo nosso desentendimento. Pretendia provar na tal reunião. O Sr. Ferreira Gomes era um homem de grandes posses e reconhecidamente, em Belém, um espírita muito evoluído e médium de grande respeito. Homem sério, de uma dignidade como poucos, exercia a solidariedade rotineiramente, atendendo a pessoas carentes, inclusive em sua bonita residência. Não era nem nunca foi político.  O Sr. Gomes me recebeu com a mesma seriedade e simplicidade que dedicava a todos que recorriam a ele. Após ouvir as razões que me levavam até sua presença ele concordou em comparecer no endereço de minha sogra e promover a reunião pretendida pela minha então esposa. Estávamos no ano de 1958. Era uma tarde de primavera. Eu me sentia um pouco nervoso, pois jamais tivera contato com informações vindas do campo espiritual e não me sentia preparado para uma reunião como aquela, tendo a presença da maior autoridade espírita de Belém.    Após dizer algumas palavras o Sr. Gomes me convidou a sentar em uma cadeira próximo a ele, que permaneceu de pé. É desnecessário descrever todo o cerimonial transcorrido durante o tempo em que ele orava com as mãos sobre minha cabeça.  Houve momentos de um silêncio profundo que eu acompanhava com os olhos fechados. Também durante certo tempo ele falava muito baixinho com uma voz serena e tranqüilizadora. Eu me senti mais calmo, realmente calmo. Após alguns minutos e antes que ele desse assistência à minha primeira esposa, o Sr. Ferreira Gomes se dirigiu a mim afirmando que eu era muito bem protegido espiritualmente falando, e que ele percebera sinais que o levavam a crer que eu seria também um médium, porém sem nenhum desenvolvimento até então. Disse ele que somente eu, mais ninguém, deveria tomar a decisão de assumir minha mediunidade. Eu jamais tivera qualquer contato ou informação sobre a doutrina espírita. Minha formação era católica e eu estudara em Colégio de Irmãos Maristas. Lembro-me de haver perguntado se os tais sinais, por ele detectados, me deveriam levar a procurar os caminhos da espiritualidade. Ele insistiu que a decisão teria que ser somente minha. Disse mais, que ainda eu continuasse a manter-me indiferente ao fato de ter um potencial para ser médium, algum dia deveria ocorrer algo que me despertasse a procurar me desenvolver. Mas que isso aconteceria naturalmente.  Tranqüilizou-me reafirmando que minha proteção espiritual de alguma forma acabaria por me orientar naquele sentido. Fiquei entre surpreso e meio assustado, confesso. Eu tinha apenas 22 anos.  O que ocorreu durante a sessão promovida por ele com minha então esposa, logo a seguir, deixarei na bruma do tempo em respeito à memória dela e porque não me move algum desejo de remover um passado do qual acabei tirando algumas lições, todavia ficou evidenciado pelo comportamento assumido por ela, na frente de todos, que se algo havia de mal no relacionamento não partia de mim. Após aquele dia nunca mais voltei a falar com ele. Em 1960, eu e minha então esposa, viajamos para o Rio a fim de tentar, fora de Belém, que nossa união ainda pudesse perdurar. Procurei um excelente analista, fomos a várias sessões com ele, mas, acabamos mesmo nos desquitando. O casamento durou quase três anos.  Naquele período eu não tive mais nenhum contato com o espiritismo e nem me preocupei com a informação que me dera o Sr. Ferreira Gomes, em Belém, em 1958. Foi uma fase difícil de minha vida, pois eu estava só, vivia em quartos de famílias que os alugavam para mim. Inclusive morei num quarto de empregada, em Copacabana, na pensão de uma senhora russa, na rua Djalma Ulrich. Nunca deixei que meus pais, em Belém, soubessem de nada do que estava ocorrendo comigo.  Meu salário não comportava as despesas que eu passara a enfrentar, inclusive pagando pensão em função do desquite. Passei então a dar aulas de preparação para concursos do Banco do Brasil e do BACEN. Com a ajuda de um professor paraense, eu usava uma das salas do seu curso no Centro Comercial de Copacabana. Lá passava meus fins de semana. As aulas tomavam a maior parte dos sábados e domingos.  Alguns alunos eu reencontrei muitos anos depois em cargos de chefia no BB, caso do Maurício de Souza Assis, chefe de Divisão do CESEC – Rio, quando eu trabalhei no Gabinete da Chefia daquele Centro a convite do saudoso Almir dos Santos. Francisco de Assis, irmão de Maurício, também meu aluno, ocupou cargo de proeminência na então CACEX, do BB. No BACEN encontrei outros como Edmaro Morgado que, a certo ponto, me ajudava nas aulas de matemática, pois consegui expandir o curso.  Esta atividade me ajudava a ter em dia meus compromissos, todavia, morar, somente em quartos alugados. Nessa fase conheci Zezé, no Banco, no Serviço Médico onde eu trabalhei de 1960 até 1963. Eu continuava a ignorar a recomendação que o grande espírita paraense me dera.  (Meu relato segue na próxima crônica)

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