O LADO OCULTO DA MINHA VIDA – Parte II

    Ainda enquanto eu namorava com Zezé, (1963) buscando uma felicidade que antes eu não conhecera no primeiro matrimônio, aconteceram fatos comigo que eu não sabia explicar, muito menos justificar. Zezé era católica fervorosa e não se interessava por assuntos que pudessem desviar sua fé, de alguma forma, para outras crenças. Entretanto, estando em companhia dela, ocorreram-me alguns fatos curiosos ou, para mim, na época, inexplicáveis. Eram imagens que se projetavam em minha mente sem que eu estivesse a pensar naquilo.  Certa vez, quando conversávamos em uma lanchonete, no bairro da Glória, onde ela morava, eu lhe disse que deveríamos voltar para a casa dela, pois percebera que sua genitora não estava passando bem.  Ao chegarmos a casa dela realmente D. Maria estava deitada num sofá precisando de socorro. Naquele tempo não havia telefone celular. Nosso retorno mais rápido, pois não estávamos muito longe, com certeza favoreceu o atendimento de que ela necessitava. Esta fora a primeira vez que algo assim me ocorria de forma mais séria. Eu já nem ligava para situações em que, estando em determinado lugar, de repente sentia a nítida impressão de que já ali estivera e seria mesmo capaz de o descrever. Isto também ocorria com relação a algumas pessoas que me eram apresentadas e eu tinha a sensação de as conhecer. Não sabia a que atribuir aquilo. Uma noite quando eu fora buscar Zezé na Ag. Centro do BB e voltávamos para a casa dela a pé (naqueles tempos era possível, sim, e era quase meia-noite), ocorreu-me ver outra imagem fora do contexto de nossa conversa. Apareceu em minha mente a figura de minha ex esposa, que ainda residia em Botafogo, no Rio, caída no box de um banheiro e sangrando. Eu já estava oficialmente desquitado dela. Na manhã seguinte apareceu-me no Serviço Médico do BB, onde que eu trabalhava, Lúcia, a irmã de minha ex esposa. Ela me contou exatamente aquilo que eu “vira” na noite anterior. Maria tivera uma hemorragia externa por razões que não interessa tratar aqui. A irmã fora me pedir ajuda na assistência de que dependia minha ex. Atendi ao pedido dela sem nenhum problema. Esses fatos se sucederam algumas vezes e me deixavam intrigado sem saber o que fazer. Em dezembro de 1964 casei com minha agora saudosa Zezé. Nesta fase inicial de nossa união tive a atenção despertada para a ioga. Passei a ler vários livros, geralmente do competente professor Hermógenes.  Logo iniciei-me na prática tanto da hata-ioga (asanas, ou posturas físicas), como na adiana-ioga (relaxamento e meditação), e na prana-ioga (respiração completa). Essas duas últimas práticas eu as uso até hoje quase diariamente.  Com a continuação dos meus exercícios de yoga outros fatos se sucederam. Durante algumas sessões de relaxamento passei a ter sensações estranhas como se de repente estivesse a sair de meu corpo e a flutuar sobre ele.  Eu não sabia a que atribuir aquilo, que depois, por diversas leituras, tomei conhecimento tratar-se de meu corpo astral, ou alma, como outros chamam. Algumas vezes eu me assustava muito e assim acabava por provocar o retorno imediato ao meu corpo físico. Não espero que todos acreditem, porém também não me move nenhum intento de estar aqui a contar histórias fantasiosas. Repito que nesses relatos estarei sendo sempre fiel à verdade dos fatos. Com a repetição daquilo sempre que eu relaxava completamente comecei a ter mais aguçada ainda minha curiosidade sobre o que me dissera o professor Ferreira Gomes, em Belém, alguns anos antes. Não sabia qual a ligação de uma coisa com a outra, entretanto passei a prestar mais atenção em mim mesmo. Nesta fase eu ainda continuava a ministrar aulas preparando candidatos a concursos do Banco do Brasil e do BACEN. Certo dia um de meus alunos me recomendou para dar aulas particulares a um casal de filhos de um senhor que depois fiquei sabendo ser General do Exército. Eles moravam em Botafogo. A família era muito simpática e me passava uma paz que agradava muito. Eu dava aula aos dois jovens no espaço da copa, ao lado da cozinha. Era um dinheiro a mais que veio em boa hora quando eu estava já nas garras de alguns agiotas.  Durante as aulas percebi algumas vezes que o pai deles me observava com certa insistência. Certa noite, logo que eu cheguei ao apartamento deles, o senhor se dirigiu a mim perguntando se após a aula eu teria um tempo para que pudéssemos conversar, mas não me disse sobre o que. Concordei. Depois fiquei sabendo que ele, além de general do Exército, era irmão do chefe maior da CACEX, do Banco do Brasil (anos 60). Ocorre que nossa conversa nada teve a ver com o BB nem com o Exército.  Ficamos a sós, na sala, e aquele senhor, sério, educado, calmo, mostrou-me o seu outro lado: ele era espírita, médium muito evoluído, possuía na visão o poder de ler a aura das pessoas e perceber a presença de seres para além do plano físico.  Logo me veio à mente outra vez o Dr. Ferreira Gomes, em Belém do Pará, em 1958. Os dois jamais se conheceram. Haviam transcorrido cerca de cinco anos, pois estávamos então em 1964, no Rio de Janeiro.  (Meu relato segue na próxima crônica)

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