O NADA ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

    Na década de 60 eu li o livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldoux Huxley, escrito creio que em 1931. Li e reli. Ainda o tenho na minha estante em Ipanema, no Rio. Satirizando a realidade que Huxley projetava numa visão de futuro próximo um dia eu escrevi e divulguei uma crônica com o título de “Admirável Imundo Novo”. Foi em Janeiro / 2004. Passeei minha crítica sobre a forma como ia caminhando, ou vai caminhando nossa humanidade.Assim eu comecei aquele texto: “Ao virarmos o novo milênio, todos nós, em preces, cânticos, versos, declarações, externávamos nossa profunda, nossa imensa esperança, nossa fé, em que estávamos entrando numa “nova era”. Assim muitos acreditavam.” “Nada mais de guerras, de injustiças sociais, de desrespeitos aos direitos humanos, nada mais de botas a pisar nas flores de nossos jardins, tortura nunca mais (?!), nem trabalho escravo. Corruptos e corruptores estariam todos se convertendo à probidade, incentivando caminhadas e levantando a bandeira do pundonor.” “A violência se divorciaria de todas as suas motivações, em todos os seus graus e descaminhos, e seria ardente defensora da paz e do amor. O preconceito estaria aos prantos fazendo juras de amor a negros, brancos, mestiços, índios, amarelos, homossexuais, etc.”Evidentemente que eu estava a ser irônico, pois a realidade que já vivíamos desmentia todos aqueles nossos anseios quando enveredamos por um novo milênio. Estávamos, repito, no começo de 2004. Já se passaram nove anos e nós seguimos, a cada dia, mais ameaçados por todos os lados, obrigados a ter que votar em políticos que sempre têm uma desculpa para jamais cumprir suas promessas, etc. Reforcei minha crítica irônica, na época, lembrando Shakespeare: “Parecia que se concretizariam as palavras de William Shakespeare, no ato V, de “A Tempestade”: “Ó maravilha! / Que adoráveis criaturas aqui estão! / Como é belo o gênero humano! / Ó Admirável Mundo Novo / Que possui gente assim!”Hoje chegamos ao ano de 2013. Muitos e muitos ficaram pelo caminho, uns por doenças quase incuráveis, ainda, outros pela violência que nos ameaça onde nós estivermos outros porque simplesmente chegara sua hora e assim por diante. Vejo que infelizmente se algo mudou tem sido para pior. E no texto de 2004 acrescentei mais algumas críticas à nossa então realidade:”Pouco tempo bastou, entretanto, para que se percebesse que Caim matar Abel já não despertava nenhuma emoção, nenhum interesse, nenhuma manchete. Mais rápido que de repente iniciou-se uma avalanche de fratricídios, com tentáculos movidos por ambições, ou desejo intenso, em que filhos começaram a seqüestrar e/ou matar pais, netos a matar avós, pais a matar filhos, em um nível assustador. Para os que ainda se assustam, claro. Alguns crimes com requintes de barbárie.” “A violência parece que descumpria as promessas e se robustecia a sombra da ausência da autoridade. O comércio das drogas explodia com as esperanças do amor, da paz, da fraternidade. Corroia rapidamente os vários níveis de nossa sociedade, enlodando para sempre pilares do poder que deveriam estar a fazer cumprir leis, a impor a ordem, e oferecer segurança à mesma sociedade.” … “Oh!… Admirável Imundo Novo… Em outro terreno, os valores foram invertidos, distorcidos, postos de cabeça para baixo. A mediocridade parece ser o prato preferido de grande parte da mídia, em detrimento do que possa oferecer cultura, educação, beleza, “mas não dá Ibope…” A audiência e o lucro têm prioridade, ainda que deseducando, destruindo valores, desencaminhando mentes, empobrecendo a cultura.”No correr do texto eu acirrei minha crítica contra o que fazia na época o governo americano, comandado pelo mentiroso, guerreiro no pior dos sentidos, incompetente, etc, o Sr. Bush que quase nos levou a uma terceira guerra mundial. Não deixei igualmente de tecer críticas ao terrorismo internacional que alastrava seus tentáculos pelo mundo afora. Em vez de combatê-lo Bush o provocou ainda mais. Ele se valia do que de pior existia na política externa americana.Saltando no tempo refiro-me agora ao que outro dia vi num jornal da televisão. Acreditem porque é a pura verdade. Estão fabricando roupas masculinas, aqui no Brasil, especialmente ternos, com aparatos para serem considerados blindados. É isso mesmo, amigos e amigas, roupas blindadas ou à prova de balas.Um perito em armas fez uma demonstração, a pedido da repórter, usando uma arma do Exército e atirando em paletós daqueles ternos que talvez eles pretendam nos vender, a preço de ouro, em futuro próximo. Orgulhosa, a repórter fez questão de mostrar que a bala não passara de um estofamento apropriado sem atingir o corpo de quem estivesse usando aquele paletó. Sinceramente eu não esperava viver para assistir a este tipo de coisa. Parece que a tendência é quererem fazer-nos ter uma defesa contra a violência que está em toda parte enquanto eles, nossos governantes, mostram-se incompetentes o suficiente para combatê-la ou colocá-la num nível, digamos “suportável.”E não pensem que eram ternos para militares, absolutamente, mas para cidadãos comuns, para nós que certa Ministra, em passado recente, disse que éramos “apenas um detalhe”. Como aposentados já fomos chamados por outro governante de “vagabundos”. Tendo esses conceitos sobre nós, povo, que mais eles engendrarão e nos imporão no futuro? Quem sabe devido a tanto reclamarem das despesas da Previdência Oficial eles não criarão campos de concentração e/ou fuzilamento para idosos?! É, gente, caminhamos mesmo para um terrível “Imundo Novo”. Vou encerrar este texto da mesma forma como o fiz no que divulguei em Janeiro / 2004:”Oh!… Admirável Imundo Novo… Encerro lembrando o que também escreveu Shakespeare, em Hamlet, ato III: “Oh! Não mais viver / No fétido suor de um leito sujo, / Imerso em corrupção, acariciar e amar / Na pobreza imunda…”

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