Politicalha desavergonhada

    Há muito tempo eu venho dizendo que neste Brasil não existe oposição em política, quero dizer, oposição verdadeira, confiável, batalhadora, com princípios, idéias e ideais, objetivos, uma oposição que tenha algum programa que se possa conhecer, acreditar e eventualmente apoiar. Digo isso desde que surgiu o tal mensalão do PT. Vejam que segundo denúncias do próprio empresário que teria coordenado e/ou engendrado o sistema, depois conhecido como mensalão, o Sr. Marcos Valério, antes ele usou a mesma sistemática para favorecer políticos do PSDB em Minas Gerais. Ainda que alguns tucanos possam querer desmentir, o fato é que Marcos Valério afirma ter provas convincentes. Ele deve saber o que diz.Da minha parte não duvido porque tenho dito e repito agora, não vejo oposição atuante nem confiável de há muito. Quando seus interesses falam mais alto eles tiram a máscara, porém sempre nas caladas da noite ou nos bastidores, nunca em público. Quero chegar à eleição de Renan Calheiros para Presidente do Senado.Diante dos microfones de emissoras de televisão vimos vários personagens, fossem do PSDB, do DEM, ou de outros partidos que dizem ser de oposição ao atual Governo Federal, terem sempre um discurso bem elaborado, mas evitando atacar Renan mesmo sabendo dos processos que, segundo o Procurador Geral da República, existem contra ele.Apenas faziam de conta estar descontentes com a possível eleição daquele que antes, há seis anos, também como Presidente do Senado, pelas mesmas denúncias que pesam ainda agora, evitando não ter seu mandato cassado renunciou à Presidência do Senado e ao próprio mandato de senador. Irritava-me ver tanta cara de pau, tanta sem-vergonhice, de alguns que inclusive já estiveram no poder por oito anos, que engavetaram cerca de 45 denúncias de mutretas, de trapaças as mais variadas, e de quem alguns esperavam, pelo menos agora, uma postura mais correta, mais confiável, politicamente falando. Reafirmo que não confio nessa gente, pois acima dos interesses do país, para todos eles, com raras exceções se houver, prevalecem sempre os interesses pessoais ou partidários, os conchavos, o corporativismo. E isto voltou a acontecer agora na eleição tanto para a Presidência do Senado como para a da Câmara. Vide o candidato vitorioso na Câmara de Deputados também com processos pelos quais poderá vir a ser condenado.Há comentaristas que li garantindo que Renan Calheiros teve sim votos de senadores da tal “oposição”. Não duvido. Lembrem que nesses casos, para eles poderem agir sempre às escondidas, o voto continua a ser secreto. Uma excrescência que nenhum deles, com todo o discurso que fazem para a platéia, se empenham em derrubar. Colocar novamente na Presidência de uma Casa como o Senado Federal, alguém que há seis anos renunciou para não ter seu mandato cassado, estando ainda a prevalecerem as mesmas denúncias de antes, não é apenas um acinte, é um deboche, é rir da cara do povo que os elege, é fazer escárnio com a democracia.Uma grande prova disso foi o pronunciamento que fez, no dia da eleição de Renan, o Sr. Collor de Mello. Com aquele seu jeito de amante da força, desaforado, malcriado, soberbo, ele agrediu com palavras as mais violentas o Ilustre Procurador Geral da República que está denunciando Renan Calheiros.Da tribuna Collor o chamou de chantagista e prevaricador. Claro que ele estava se valendo de sua imunidade parlamentar para poder ser tão grosseiro, numa tentativa de defender Renan a quem certamente ele, Collor, ajudou a eleger. E pensar que este senhor esteve na Presidência da República de onde foi devidamente cassado pelo Congresso após inúmeras denúncias contra ele.Collor e outros senadores pró Renan Calheiros não apenas tentaram enxovalhar o Procurador Geral da República, como até o STF, dois poderes da República face à atuação dos mesmos no julgamento do processo do Mensalão. Querem mais desrespeito também quanto à posse de José Genoíno na Câmara já estando condenado? E José Dirceu a instigar movimentos contra o STF? Ridículo, politicalha desavergonhada de gente que antes lutou contra a ditadura e agora julga que na democracia, frágil, mas democracia, eles podem desrespeitar decisões de um poder superior, pisar em leis, rasgar a Constituição Brasileira, e promover uma eventual desordem pela qual deveriam também responder e a sério mesmo.Lembrem que temos agora na Presidência das duas Casas do Congresso dois políticos que estão na relação de “ficha suja”, ou não? Pior e muito mais grave, eles foram eleitos não só por outros da mesma laia, como também por muitos dos considerados como “ficha limpa”. Vamos acreditar em quem a essa altura? Permitam-me reproduzir aqui também o que disse o Sr. Renan Calheiros no seu discurso de posse: “A Ética é meio, não é fim.” Aliás, recomendo a leitura do artigo do jornalista Ricardo Noblat, em “O Globo”, edição de 04.02.2012, na página 2. Excelente. Encerro dizendo que nós só deveremos assumir uma postura de país sério, confiável, justo, com uma economia forte, sem grandes diferenças de classes sociais, etc, daqui a algumas gerações. Isto se a juventude atual, a que não vive mergulhada em drogas de todo tipo, decidir, a sério e pra valer, expurgar o mais possível, pelo voto, a corrupção política que campeia pelo país. Sei que vai demorar muito, mas acredito ser possível.

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