O PAN ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

    Pois é, amigos e amigas, afinal domingo se encerrou o PAN, realizado no Rio de Janeiro, e entendi que ele deveria ser o motivo maior para esta crônica.  Quando tantas são as razões para se falar mal do nosso país pelos inúmeros casos de  suborno, corrupção e descalabros mil de nossa classe política, e também por diversos escalões de nossa sociedade envolvidos nos mais variados escândalos, o esporte, em especial através disputas internacionais como o PAN e as Olimpíadas, está acima de qualquer suspeita. Só a miopia de radicalismos cegos não enxerga isso.  Tivemos a honra de assistir á melhor, a mais bonita de todas as festas de abertura em todos os 15 PANs já realizados, conforme tantos jornalistas o disseram, aqui e lá fora, além de mais uma vez podermos aplaudir a presença de tantas delegações dos mais variados países participantes. Um congraçamento que somente o esporte promove. Se havia países presentes com mais de mil atletas, também ali estavam outros que só puderam trazer 3 ou 4 representantes e que mereceram de nós os mesmos aplausos. Sonhos, anseios, aspirações muitas de homens e mulheres que se prepararam para dar o melhor de si, para dignificar a participação dos países por eles representados.  Quanto sacrifício pessoal empenhado num projeto de vida, de luta, no melhor e mais digno sentido desta palavra. Limites sendo superados já no preparo dos atletas. Todos logicamente com o mesmo objetivo: alcançar o melhor resultado possível.  A história se repetia, a cada dia, nos mais variados tipos de provas, conforme já acontecera em outros 14 PANs e tantas Olimpíadas pelo mundo afora. Eu acompanhei o que consegui, sempre pela TV, juntando-me a milhões de brasileiros por este país e por tantos e tantos milhões de pessoas por todo o nosso planeta.     Domingo tivemos então o encerramento do PAN. Posso dizer, na minha visão, que vencedores são todos os atletas que, com seriedade, com dignidade, entraram em tatames, subiram em ringues, entraram em quadras cobertas, ou nas montadas nas areias da praia, freqüentaram pistas de corrida, fizeram saltos, lançaram pesos, remaram com muito vigor nas raias da Lagoa Rodrigo de Freitas, pisaram em gramados, velejaram em mar aberto, participaram de maratonas e triatlos, usaram suas raquetes em quadras se saibro ou sobre pequenas mesas de tênis, se exibiram com graça e perfeição no solo e em instrumentos, etc. Na piscina tivemos mais um fenômeno da natação brasileira e mundial, o nosso Thiago Pereira. Humilde, alegre, simpático, superou o recorde do grande atleta dos EUA, no passado, Marcus Split, que ganhara 5 medalhas de ouro num PAN. Thiago participou de 8 provas, obteve medalhas em todas elas e o recorde de 6 de ouro. Em duas dessas provas derrubamos, no bom sentido, a hegemonia americana que nunca perdera no revezamento de 4 x 100, além da prova rápida, creio que em apenas 100 metros. E as medalhas foram chegando, se acumulando, cada uma representando suor, amor, paixão e algumas lágrimas, essas de felicidade. O quarto lugar no quadro geral costumava ser nossa posição histórica, mas desta vez nos superamos em muito. Fico feliz, como brasileiro, e amante do esporte, que pratiquei desde minha infância, por termos um total de medalhas só superado pelos atletas americanos. Os demais 40 países fazem fila atrás de nós. E conseguimos mais de 161 medalhas no total. Temos que endereçar os nossos melhores aplausos aos nossos atletas que nos representam como nação, aquela que está acima de qualquer suspeita, aquela que só nos torna mais dignos e respeitados: a nação do esporte.Concordo com o que alguns disseram sobre a decisão do volley feminino: foi Cuba quem venceu, com méritos, não nós que perdemos. O equilíbrio das equipes antecipava um jogo duríssimo e qualquer resultado poderia ser esperado. Parabéns às cubanas. Em compensação no volley masculino os vencemos por 3×0 em sets, no futebol feminino nossas meninas as superaram também, e no futsal impusemos 8×0 aos cubanos. Isto além das nossas vitórias, sobre eles, em outros esportes.A lamentar a atitude deselegante, grosseira e totalmente anti desportiva dos nossos “hermanos argentinos”. Ao receberem no pódio as valiosas medalhas de prata, após perderem para o Brasil no handball, acintosamente os atletas as retiravam logo em seguida. O mesmo eles já haviam feito semanas antes na decisão da Copa América, lembram? Pois é, perderam da seleção do Dunga por 3×0 e, no centro do campo, ao receberem as medalhas, também de prata, logo as retiravam do pescoço.Ao final da partida, no PAN, eles partiram para uma agressão covarde e sem sentido, inclusive sobre pessoas que sequer haviam participado do jogo. Isso é feio, muito lamentável. Infelizmente os anos passam, as décadas se sucedem, mas parece que eles não amadurecem esportivamente falando, que não vão aprender nunca o verdadeiro e mais elevado sentido do espírito esportivo. Preferem continuar dando essas demonstrações públicas de falta de educação. E nós é que somos os… “macaquitos”!!! Da nossa parte outros heróis foram se destacando. No tênis de mesa Hugo Hoyama obteve sua nona medalha de ouro consecutiva considerando outros PANs de que participou. A jovem Yane Marques, nordestina determinada, que com o apoio forte de sua genitora, foi o grande destaque nas 5 difíceis provas do Pentatlo Moderno e ganhou medalha de ouro. Tantos heróis, alguns anônimos, defenderam o Brasil com muita competência, garra e patriotismo. Exemplos que deveriam ter mais destaque em nossa mídia. Exemplos a serem seguidos por boa parte de nossa juventude que insiste em tomar descaminhos afastando-se de uma esperança de sua necessária participação na construção de um futuro melhor para nosso país. Futuro através da formação escolar, cultural, profissional, e até mesmo política que desenhe um quadro capaz de colocar nosso Brasil entre as nações mais respeitadas do mundo. O esporte constrói…………………………………………..No dia 25 assisti a um dos melhores espetáculos já vistos no templo maior do futebol brasileiro e mundial, o Maracanã. Aquele estádio não lotava para o futebol masculino profissional há décadas, mas hoje lotou, e ao meio-dia, numa quinta-feira. Nossa equipe feminina deu um show de técnica e de arte e fez jus às medalhas de ouro com uma goleada de 5×0 sobre a boa equipe americana. Eu disse boa porque afinal, para quem não sabe, elas estão no primeiro lugar do ranking internacional da Fifa. Pois é. E o lindo espetáculo, que até hoje não tem nenhum apoio da CBF, teve direito a nos oferecer o majestoso futebol de Marta, a artilheira do PAN, com 12 gols, às defesas de Andréa, invicta como a seleção sem tomar nenhum gol, enquanto nosso time marcou 33 ao todo. Parabéns meninas.Ainda por cima ganharam para o Brasil a 35ª medalha de ouro deste PAN, nos colocando, naquele momento, num segundo lugar histórico, fora de série, que alguns insistem em não aplaudir. Quanto preconceito, quantas barreiras elas têm vencido há muitos anos, mas provaram mais uma vez o seu talento, o seu orgulho de serem brasileiras, mostrando o Brasil diferente daquele todo pichado e manchado de lama por nossos políticos e boa parte de uma sociedade doente, injusta, preconceituosa.Vários de nossos atletas, em muitas modalidades, vieram de classes pouco favorecidas por uma política governamental nada abrangente, em educação, em saúde, socialmente à margem do que afirma a nossa Carta Magna, de que somos todos iguais perante a lei e de que o poder deve ser exercido em nome do povo. Ainda assim eles são vencedores, se não têm voz, têm o que falta há muitos que se julgam acima das leis e de direitos tantos. Eles têm provado que têm vergonha na cara, dignidade, honra, competência, e dão o melhor de si, o seu suor pelo país, ao contrário dos que parecem sentir prazer em denegri-lo rotineiramente.  Aos eternamente insatisfeitos, que sequer destinaram uma linha em suas mensagens sobre esses brasileiros que são exemplos de dignidade, honra, ética, esportividade, competência e brasilidade, lamento se nossos bravos atletas os “decepcionaram”.

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