ONDE ESTÁ A FELICIDADE?

    Desde criança eu convivi com a felicidade. Afinal eu nasci numa família linda, amorosa e mesmo sendo o mais velho de dez irmãos, com o tempo nunca tive do que me queixar. Não que eu tenha sido favorecido por ser o primogênito. Este fato apenas mexia com o coração de meu saudoso avô materno, o químico industrial Francisco de Oliveira Simões. É verdade que sempre fui seu xodó.Infância feliz em todos os sentidos e juventude na qual fui feliz não só em família como amando muito e muito à maneira dos jovens de antigamente. Eu namorei e tíve aventuras tantas, porém sempre respeitei quem me dedicou atenção e carinho. A felicidade está intrinsecamente ligada ao amor, embora nem sempre. Mas vamos crescendo e tendo que administrar a nossa vida, o nosso caminhar para o futuro. Enfim chega o momento em que nós assumimos a rédea do nosso viver.Eu encontrara um grande amor, porém de repente aquela felicidade que eu regava que eu cuidava com carinho, imaginando que a teria para o resto da vida é interrompida abruptamente por mim mesmo. O desejo em forma de mulher surge a minha frente, arrebata um apoio inesperado de minhas emoções que subitamente fazem ouvido mouco para a razão. Fiz a antiga felicidade vítima de uma decisão precipitada, magoei-a, não enxuguei suas lágrimas.Deixei-me arrastar pela novidade que acabou por quase arruinar minha vida. O tempo provou que eu me equivocara ou fora injusto o suficiente por uma cegueira de paixão que não me ajudou a construir absolutamente nada e destruiu os castelos que eu ia aos poucos colocando pedra sobre pedra para um futuro feliz.E a vida nos cobra e nos castiga sem perdão. Pelo menos comigo aconteceu assim. Quando enfim acordei e vi que tinha caído em desgraça passei a não ver qualquer luz no final do túnel, como se diz corriqueiramente. Carreguei uma cruz bem pesada por longo tempo perguntando a mim mesmo o que eu fizera com a felicidade. Tive que levantar a cabeça e dar a volta por cima.Eu estava praticamente só nessa caminhada, abrindo atalhos, derrubando barreiras quando a própria vida me ofereceu nova chance. Eu não hesitei e a agarrei com o coração e uma grande esperança de recomeçar o caminho em busca da felicidade. Digo sempre que é melhor aprendermos com nossos erros do que com exemplos alheios que nem sempre nos servem. Abriu-se a minha frente um horizonte de paz, amor e uma certeza de que tudo bem combinado nos levaria à felicidade que ambos almejávamos. Se nem tudo eram flores, e ninguém passa a vida inteira somente as colhendo, pois acaba esbarrando nos espinhos, o fato é que me senti de volta ao sonho antigo agora com a idade e os sentimentos bem mais amadurecidos.Sim, eu reencontrara a felicidade. Fiz planos e mais planos e executei muitos, todavia nunca tenha tanta certeza de que o que você está construindo vai durar para sempre, ainda que este sempre tenha o limite da sua existência. Não, amigos e amigas, a vida ou talvez o que chamam de Deus e outros de destino tem suas razões, seus motivos que nós, pobres seres mortais desconhecemos.Só tomamos conhecimento deles quando ou percebemos que a vida segue sem grandes infortúnios e anuncia uma felicidade quase perene, enquanto dure o amor e o viver, ou quando somos surpreendidos com o mais duro dos golpes. Quanto mais amamos mais iremos sofrer se a vida decide pôr um repentino ponto final naquele relacionamento que já nos fazia feliz por algumas décadas. Não temos força nem meios para lutar contra apenas talvez alguma fé, mas que apenas pode nos aliviar nos confortar, visto que milagres não se compram.Nesta fase do meu viver, entretanto, quando eu estava entre continuar ou desistir de tudo, percebi que eu poderia sim tentar outra vez, buscar o caminho da felicidade do qual uma vez eu próprio me desviei e que anos depois o destino o apagara sem dó nem piedade. Em algum momento eu decidi arriscar novamente. Foi quando escrevi estes versos que fazem parte do poema “Para ti”:A vida que me passou rasteiraFoi também a primeiraA chorar junto comigoE a me oferecer abrigoPra mitigar minha dor…Talvez fosse apenas mais um sonho que eu procuraria trazer para a minha realidade, mas eu decidi tentar. Por isso terminei aquele poema com estes versos:…Que brota que viceja e dá sentidoAo que pressinto no olhar e no carinhoQue o meu caminho pode continuar contigo.Assim assumi novamente o caminhar junto, pois afinal eu já estava ultrapassando sete décadas de idade. A esta altura do viver vamos rumo à reta final sem direito a retorno nem a procurar nova oportunidade. Com certeza passou a ser minha última chance e ser e fazer alguém feliz era tudo que eu desejava mais uma vez. Agora seria ou tudo ou nada, não havia tempo para nova tentativa.Aceitei transformar uma amizade que vinha de longe a qual também enfrentara imensos problemas, tivera que vencer muitas barreiras, heroicamente ultrapassara dificuldades numa sobrevivência que eu acompanhara durante muitos anos, agora num viver junto, solidário, acreditando em construir aos poucos uma união estável fosse qual fosse o peso do amor. O importante era alcançar a felicidade para ambos. Você me pergunta se conseguimos? Temos nos empenhado sabendo que transformar amizade em amor é algo algumas vezes desnecessário. Mais útil e conveniente é saber administrar a vida a dois, ter sensibilidade para fazer concessões desviando dos espinhos e valorizando a flor. Hoje não pergunto mais “onde está a felicidade?”, acredito que ela está habitando aqui.

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