PARAÍSO TROPICAL

          Já houve um tempo em que o Brasil foi conhecido como o “país do futebol”. Contudo, de uns tempos para cá, como só permanecem jogando no país os futebolistas rejeitados na Europa, a definição perdeu o sentido. Também já nos rotularam de “país do carnaval”. Mas, a festa, com exceção dos sambódromos e de Salvador, transformou-se num grande feriadão, e a designação foi “desbotando” até sumir.        Agora, tem gente dizendo que vivemos no “país das novelas”. Não há o que contestar. Nada no Brasil possui o poder de prender mais a atenção do que um folhetim das oito da  Globo, que começa às nove.          Apesar de adorar assistir televisão, não vejo novelas há tempos. Mas, de tanto ouvir falar, sou telespectador passivo de “Paraíso Tropical”: sei que Taís e Paula são gêmeas – uma boazinha e outra má – e que uma se passou pela outra. Nesses últimos dias, instalou-se uma grande incógnita no país: quem matou Taís?         O que me chama a atenção é que os acontecimentos da vida real, por mais bombásticos que sejam, não conseguem alcançar os “picos de audiência” das histórias ficcionais, nem tampouco, ficar mais de uma semana no “ar”. Novelas, por mais chatas e inverossímeis que sejam, permanecem em evidência por cerca de um ano e possuem uma vantagem adicional: você pode ficar semanas sem assistir. Quando voltar a ver, nada terá mudado.         Outro fato que me “encuca’ é que, através da imprensa, muita gente sabe o que vai acontecer durante a semana e mesmo assim, não perdem os “próximos capítulos”. Deve ser para conferir se o que leu  era verdade.         Até mesmo a tragédia com avião da Gol, o pior acidente da história da aviação brasileira, um acontecimento  repleto de histórias mal contadas, envolvida por mistérios e mentiras,  com muitos culpados e poucos inocentes, tomou, no máximo, uma semana de atenção. Talvez, por ser um drama que ninguém revela como realmente começou e que, provavelmente, não terá um desfecho decente. Brasileiro gosta de enredos com o início recheado de cenas bonitas e efeitos especiais, desencontros no meio e finais felizes.        O caso Renan Calheiros, uma eletrizante história sobre a presença de uma amante na vida íntima de um “figurão” da República, de onde surgiu uma criança, cuja pensão alimentícia era paga por um executivo de uma empreiteira, tomaria todas as atenções de qualquer país, pelos quase quatro meses em que já dura a questão.        Porém, acostumados com a falta de punição em que resultam os escândalos políticos, nem a presença na história de picantes ingredientes como chantagens, “laranjas”, corrupções, traições, ameaças e notas frias “fizeram a cabeça” do povão.  Os piques de audiência foram pontuais: quando o escândalo estourou e nos julgamento do STF e no Senado, ou seja, onde havia a expectativa de que alguma coisa diferente pudesse acontecer.         Na próxima sexta, 28, às nove da noite, o país vai parar diante dos aparelhos de tv para saber quem matou Taís. Minha aposta é que a culpa vai recair sobre algum coadjuvante. Isso porque, como escreveu a Eliane Catanhede na Folha-SP, nem mais em filme e novela bandidos se dão mal. Especialmente se importantes e ricos – e no Brasil.    

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