PRETO DE ALMA BRANCA

    Como vivo de eventos, este ano está sendo um prato cheio: Eurocopa, Olimpíadas, escolha do prefeito de Friburgo e tchan! tchan! tchan!: eleições americanas em novembro! Os Estados Unidos possuem o dom de transformar limão em limonada. É limão porque o pleito é indireto: vence quem obtém mais delegados na soma dos estados, cuja quantidade varia de acordo com o "peso" que o estado possui na conjuntura do país. Quem ganha no voto popular, por exemplo, na Califórnia, faz X delegados, quem ganha no Missouri, soma mais Y delegados e assim por diante. Há quatro anos, Buch perdeu nos votos populares para seu opositor, contudo, "fez" mais delegados e foi o vencedor.  E é uma limonada, porque o show, que consegue refletores e a atenção da mídia no mundo todo, leva cerca de um ano: começa nas convenções, leva um "tempão" nas primárias e prolonga a reta final até o dia decisivo.   Nessa disputa entre o Obama e a Hilary, torci pelo Obama, mas queria a vitória da Hilary. Por dois motivos: um deles é que existem muitos malucos por lá que não aceitarão o fato de terem na presidência um negro, nascido no Havaí e filho de um nigeriano muçulmano com uma branca americana.O outro é que, caso eleito, qualquer decisão sua considerada errada terá reflexos multiplicados: afinal de contas é a decisão de um negro. O racismo sempre falará mais alto.Fico com uma inveja danada quando olho esse exemplo dos EUA e constato que o Brasil, que tem quase a mesma idade dos EUA e possui um significativo percentual de pretos na população, está na idade da pedra quando se trata da ascensão política dos "afro-descendentes".  Nas altas esferas da administração pública, atuam, sem destaque, três negros: Edson Santos, Ministro da igualdade Racial, Orlando Silva, Ministro dos Esportes, que pagou tapioca de R$8 com cartão corporativo;  e Gilberto Gil, Ministro da Cultura, que nunca se sabe se está no seu gabinete, em Brasília, ou fazendo um show na Áustria. Houve o caso da ascensão da Benedita da Silva que, como senadora, era uma esperança. Virou governadora e voltou a ser a Bené.   Acho que nem enfeitiçados por uma varinha de condão, jogadores de futebol "afro-descendentes" de destaque internacional, como os Ronaldos, Romário e mesmo Pelé, ganhariam consciência e lutariam por idéias e ideais político/sociais. Como os enxergo louros e de olhos azuis, imagino que nas suas casas negros tenham dificuldade de as freqüentar até como serviçais.   Ah, os artista? Nem pensar! Não vão descer a terra para rem políticos. O Milton Gonçalves até que deu uns tirinhos na água. Mas, contentou-se em ser deputado de novela. O baiano Lázaro Ramos talvez ache que dá trabalho e da lindíssima Tahís Araújo não dá para pedir que misture seu talento com políticos canastrões.      A esperança que resta é que após a aposentadoria, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, que ganhou popularidade e respeito quando enquadrou o bando do "mensalão", pense no assunto. Até porque, é como disse um cidadão ao meu lado numa banca de jornais olhando uma foto do magistrado: – "Esse sim! É um preto de alma branca!". 

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