PROMESSA DE ANO NOVO

            O Globo Online divulgou como vão as promessas de ano novo de dez dos seus leitores. São as de sempre: perder peso, parar de fumar, casar, aprender a dançar, parar de roer unhas, quitar dívidas, correr maratona e a de um sujeito de 39 anos, dos quais 15 morou em Portugal, de se readaptar ao Brasil.         Na adolescência friburguense, perto da minha casa havia um bar que não fechava nunca, nem no Natal ou no Ano Novo. Entre os freqüentadores havia o Joca, que, todo mês de dezembro, prometia que no dia primeiro de janeiro entraria no boteco e gastaria toda a munição da sua espingarda de dois tiros no teto da casa comercial: – Só assim essa birosca vai fechar!, justificava. A promessa e a espingarda eram motivos de galhofa, uma, porque a promessa nunca era cumprida e a outra ninguém ousara conhecer. As más línguas diziam que a espingarda de tão especial, era invisível.        Diariamente, antes de começar a tomar todas, Joca era sério, inimigo do cigarro, irônico e de respostas pragmáticas. Um carioca, habitué do bar, querendo saber que horas eram, perguntou-lhe com todos os esses: – Tem relógio aí, Chhhooca? E ele: – TENHO!   Ponto final.        Depois de algumas tantas, sempre voltava a fumar e contava deliciosas mentiras. A predileta é que fora assistir a um desfile de carro aberto do então presidente Getúlio Vargas na Avenida Rio Branco, no Rio. De repente, o presidente foi alvejado por uma bolinha de papel e sua guarda arvorou-se em prender o agressor. Getúlio olhou para um lado e outro da calçada e interveio, dizendo: – Ah! Eu sabia! Só podia ser brincadeira do Joca! Podem deixar!        Mas, eis que num dia 1º de janeiro, Joca não aparece no bar pela manhã. Hora do almoço e nada. Das especulações sobre a sua ausência para os mais diversos boatos foi um pulo. No final ganhou a versão de que ele havia prometido que, no Ano Novo, abandonaria os vícios e que, enfim, seria outra pessoa.         Seis da tarde, temperatura etílica alta, surge o Joca na porta do bar. A presença da espingarda de dois tiros, passeando de um lado para o outro em suas mãos, não permitia que ninguém ali presente pudesse duvidar que, finalmente, a sua promessa seria cumprida ante a revolta demonstrada contra aquela infâmia capaz de denegrir a sua imagem de um emérito profissional da bebida, construída durante longos e valorosos anos, copo por copo.        E antecipando-se a qualquer observação de consternação pela sua ausência, tomou a palavra perguntando de forma clara, alta e ameaçadora:"Eu quero saber quem foi o filho da puta que andou espalhando que parei beber?!?!"   O Joca morreu, o bar fechou e até hoje ninguém ousou se acusar.    

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