QUEM FAZ O HOMEM É A GRAVATA

    Não sei não, mas desconfio de que exista algum complô contras as gravatas. Primeiro, foi o futurólogo Richard Watson, da Future Exploration Network, que anda dizendo que o importante acessório masculino irá desaparecer entre 2041 e 2050. E agora, ouvi no rádio que os costumes modernos começam a aposentar algumas peças de roupa antes consideradas essenciais. Um exemplo é que cada vez menos pessoas usam gravatas. Nos EUA o número de homens que usa gravata todos os dias no trabalho é de apenas 6%. Em 2002, esse índice era de 10%. O volume de vendas, que alcançava a um bilhão e trezentos milhões de dólares no mercado americano, agora não chega a 680 milhões de dólares. Os especialistas acreditam que a gravata, que era um símbolo de poder e autoridade até pouco tempo atrás, vai sair de cena discretamente. Quando o meu pai e o João Saldanha, lá de seus túmulos e um antigo chefe que tive no BC, tiverem conhecimento das previsões, vão se revirar nos caixões (o chefe ainda não morreu).    Meu pai, porque como representante comercial, viajava para o interior do estado sempre trajando a calça do terno azul marinho, camisa esporte e guarda-pó. Se o freguês fosse daqueles especiais, colocava um paletó qualquer. Contudo, quando vinha visitar a sede da empresa no Rio para resolver "questões maiores" (receber o dinheiro das comissões), dava à ocasião a importância que ela merecia: trajava a calça e o paletó do mesmo terno azul-marinho e incorporava ao conjunto a camisa social branca e – em destaque – uma esfuziante gravata vermelha.Já o João Saldanha, quando alçado a função de comentarista de assuntos gerais do finado "Jornal da Manchete", respondendo sobre o que mudaria em sua vida, disse: – "Nada". – "Só que, pela importância da missão, vou ter que passar a usar no vídeo uma gravata borboleta". E usou.    Aqui no BC, havia um antigo chefe que nas entrevistas "prévias" que realizava com os candidatos às comissões, deixava para segundo plano a conversa sobre as exigências do setor, as responsabilidades e as implicações das tarefas.  A primeira condição imposta aos aspirantes aos cargos era aceitar usar gravata. Do terno ele abria mão.   Não sei se ainda é como "antigamente". Mas, no prédio do BC aqui no Rio, existe um restaurante terceirizado freqüentado pelo "povão". No mesmo andar, numa das alas, há um local reservado para almoços e confraternizações dos "poderosos", cujo apelido é sintomático: gravatão! É lugar comum se dizer que "por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher". Eu acrescentaria: "E na frente  dele  uma gravata!".

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