SIR THOMAS SEAN CONNERY

     Como acontece com todo mundo, de vez em quando sou surpreendido ao perceber algum detalhe que, apesar de possuir a mesma visibilidade dos demais, por muito tempo conseguiu passar batido pela minha percepção. Numa daquelas noites em que o mais interessante da TV é ficar zapeando pelos canais, encontrei um programa que homenageava o Sean Connery. Era a entrega de um prêmio a uma personalidade cinematográfica eleita anualmente.Com produção digna do Oscar, mas sem pieguices e cenas melodramáticas, descobri na solenidade o que estava na minha cara a pelo menos trinta anos: Sean Connery é o ator mais emblemático do cinema dos últimos 30 anos e estará presente em qualquer lista honesta que distinga as maiores personalidades mundiais vivas. A homenagem mostrou toda trajetória cinematográfica do artista e foram mostradas as cenas dos 68 filmes onde Connery viveu com perfeição todos os personagens. Entre outros, foi rei, súdito, ladrão, policial, sedutor, militar, civil, rico, pobre, espião, dono, empregado, perseguidor, cientista, iletrado, ladrão, tímido, professor, aluno, filho, pai. Sua voz personifica o passado, o presente e o futuro. Interpretando sem deixar sucessores o inigualável agente secreto 007 de Sua Majestade – com licença para matar – conseguia unanimidade entre os sexos: ser o sonho de consumo das mulheres e levar a vida que dava inveja aos homens.Poupando-lhe dos agradecimentos por sua generosidade alguns companheiros de trabalho – entre ele Harrison Ford, Andy Garcia, Catherina Zeta Jones, George Lucas, Julia Ormond – contaram passagens da convivência com o ator. Steve Spielberg revelou que para viver o papel do pai do Indiana Jones só alguém que lhe pudesse ensinar alguma coisa ao personagem: James Bond. E sem ter que aturar aqueles finais de solenidades em que sai fumaça do chão e cai uma chuva de papel picado do teto, Sir Thomas Sean Connery falou da sua emoção, agradeceu as presenças, aos familiares e retirou-se sem beijar o troféu recebido. Também não confirmou nem desmentiu que aos 75 anos irá se aposentar. Desconfio do motivo da dúvida: é porque falta interpretar o personagem que é o seu oposto: aquele que, desprovido de elegância, charme e beleza, não consegue comer ninguém.

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