TERCEIRA IDADE UMA OVA!

    Não quero parecer ranzinza nem estraga prazeres mas há coisas, hoje em dia, que enchem as medidas de nossa paciência e acabam, algumas vezes, estourando nosso bom humor. A começar pelo mau humor exibido nos tais programas humorísticos da Tv. Eles mais irritam do que divertem. Claro que há exceções, mas são raras.Há no ar uma perniciosa mania de classificar tudo, de rotular tudo. Eu não agüento. Sem falar na turma que posa de “papai sabe tudo” (lembram deste cansativo programa antigo?!) e que não perde uma chance de nos indicar o que é melhor para nós, para nossa saúde, para vivermos melhor, e tome conselho de todo lado.Pior, se você prestar bem atenção sempre vem alguém que acaba por sugerir algo, como beber, no mínimo, 2 litros de água por dia (afirmam que nosso organismo necessita demais desta prática…), mas a seguir outro “dono da verdade” desmente isso garantindo que é um exagero e que acabamos acumulando mais água do que se deve.A gente não pode, na hora em que escuta essas coisas, dar nossa opinião, pois eles estão geralmente no écran da Tv e nós sentados num sofá, em nossa casa, com aquela cara de… (Ah, vocês sabiam que babaça significa irmão ou irmã gêmea? Confiram no dicionário.)… mas, como eu dizia, com aquela cara de.. panaca… Acabamos tendo que engolir em seco com o conseqüente muxoxo, seguido da interjeição ah!, para significar desprezo, desdém, como diz também o dicionário, o tal “pai dos burros”.  Engraçado, sem a tal interjeição a mesma palavra, no costume brasileiro, pode significar “beijo, carícia”… Taí uma que eu desconhecia. Então, muitos muxoxos para vocês, amigos e amigas, deste esforçado aprendiz de escritor e de poeta, pois. Outro dia, agora em janeiro, ouvi num jornal da TV a proposta de um deputado para que se criassem “O dia da esperança”, além de “O dia da virtude”, entre outras inutilidades. Peço vênia a S. Excelência, com todo o respeito, mas, não teria algo mais importante e útil para fazer em favor da mal informada comunidade que o elegeu?Talvez empolgado com a idéia do colega, outro deputado se empenhou para que fosse criado “O dia nacional do macarrão” !!! Não é piada não, eu ouvi no jornal do dia 12/janeiro deste ano. Ora, por que então não criar também, e de forma mais… nacionalista… (como está em moda cá na América Latina) “O dia nacional do feijão”?Mas não acabou por aí não. Outro político, preocupado com a saúde de nosso povo, entrara com um projeto para que tornassem o suco de laranja uma espécie de bebida oficial do povo brasileiro. Interessante, não? Mais saudável, realmente é, do que se empanturrar de refrigerantes, mas como seria feito? Por decreto? Algo com requintes ditatoriais, ao estilo de alguns governantes deste lado do mundo atualmente?Agora, sabem que o ilustre parlamentar foi entrevistado na TV e justificou a sua idéia? Mesmo com a repórter informando que ele, o próprio, … é fazendeiro e produtor… de laranjas. Eu agüento, amigos? Foi tudo no mesmo dia, 12/01/2007, no jornal televisivo da Rede TV, na hora do almoço.Por outro lado alguém já ouviu esses senhores criativos (hummm…) e com ares doutorais, eventualmente pretensiosos e/ou pedantes, se referirem a crianças e jovens como seres integrantes da primeira idade?! Não vale mentir.Ou então agruparem os que já alcançaram os 30 a 40, ou mesmo 50 anos, numa seleção, digamos, da segunda idade? Duvido. Então por que esta necessidade de nos isolar num canto, atirando a todos que já ultrapassaram os 60 anos, ou que orgulhosamente continuam ativos acima dos 70 (como eu), dos 80 ou dos 90 num grupo da… “terceira idade”?! Desculpem, isto não tem nada de científico.Não sou ranzinza não, eu não suporto é esta mania de rotulagem, em geral, e especialmente quando se trata de pessoas, digamos, mais vividas. Se a gente dá um espirro já aparece quem deseje nos vacinar contra a gripe. Com campanha e tudo o mais. Pois eu digo que nunca usei essas vacinas e convivo muito bem com meus resfriados alérgicos que por sinal duram mais ou menos 24 horas. Se tropeçamos na rua, nesses absurdos desníveis que as prefeituras não proíbem, e até mesmo elas próprias os criam, logo alguém justifica que caímos porque estamos… velhos. Velho, é a mãe, companheiro. Encare a saída de certas garagens com alturas até de mais de 20 centímetros da calçada, sem nenhum aviso, e depois me diga se doeu. E quando faltam tampas em buracos da LIGHT, da CEDAE etc, só os mais idosos é que caem neles?! Repito, velho é a mãe, companheiro. Fala sério, gente. E certos ciclistas irresponsáveis que abusam da contra mão das ruas e da velocidade? Escapei de ser atropelado por um graças à minha falecida esposa. Eu olhava para o lado da mão certa da rua, como deveria mesmo fazer, mas… e o idiota ainda me xingou…Não esqueçam que, no mundo todo, ao que consta, nós, os mais vividos, caminhamos para ser maioria, sabiam? Problemas para a Previdência? Pois que os governantes tenham competência para encontrar soluções sem passar pelo fuzilamento geral dos mais velhos, ou idosos, ou, com licença da má palavra, da “terceira idade”… arrghhh.Então, avante companheiros que a vida nos premia com mais tempo para usufruí-la, embora tenhamos também que assistir a tanta deterioração desta sociedade cada dia mais enferma, deste mundo que avança célere, pelo que dizem, para sua auto destruição dentro de décadas, tendo o homem, sempre ele, no centro desta predação.Enquanto há vida há que ser vivida, de preferência com muito prazer, mas também com muita solidariedade, com muito amor, pelejando por uma paz quase impossível, mas acreditando sempre nela, nós que somos uma parte da história deste mundo, um registro vivo de experiências e lições de viver. Nós, os da boa idade, com recordações, saudades, histórias, exemplos e futuro, com o exercício constante da arte de viver.

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