TROCANDO CONFIDÊNCIAS

    As pessoas vão fazendo amizades no correr da vida, o que é muito natural e saudável, todavia todos nós sabemos que há amigos e amigos. Não que eu esteja aqui a sugerir seleção por eventuais preconceitos, isso não. Nada a ver.Eu, por exemplo, orgulho-me de ter um amplo leque de amizades. Refiro-me aos amigos do meu tempo de infância além dos que ganhei durante meus muitos anos de atuação no Banco do Brasil, ou ainda os que a mim vieram no correr desta minha vida que já vai um tanto longa. Incluo aqui os que chegaram via meu trabalho nesta internet escrevendo e divulgando meus textos em prosa e em verso.Sempre ouvi dizer que fazer amizades é uma virtude. É evidente que assim como fazemos amigos/amigas, com o passar do tempo alguns se afastam por muitos motivos inclusive por partirem desta vida, ou como diz o nosso querido Rolando Boldrin (TV – Cultura) “partem fora do combinado”.Mas eu quero hoje contar-lhes o que ouvi de um amigão. É uma história que se no início me deixou triste acabou por despertar em mim sentimentos de uma surpresa que me fizeram recordar fatos, ou coincidências, que eu mesmo vivi no passado. Peço atenção para o que eu irei contando, ou seja, o que me falou o amigo. Todavia, enquanto este fala sobre o que ouviu de um amigo dele eu coloquei em itálico. A história vem dessa terceira pessoa em minha narrativa. Meu amigo disse que se permitia vez ou outra trocar algumas confidências com quem chamaremos aqui apenas de “Antonio”, como pseudônimo. Este também, em confiança, abria seu coração ao amigo ou buscava, outras vezes, algum conselho ou sugestão. Ele me afirmava perceber não ser conselheiro dos melhores, todavia a vida nos ensina lições que muitas das vezes acabam por servir a outros. Com isso eu tive que concordar plenamente.Vamos ao começo da narrativa do meu amigo: “Certa vez eu soubera que o “João” estava vivendo uma situação que por pouco não o levou a um estado de depressão. No começo ele se esquivou de me procurar tentando poupar-me de suas angústias. Mal sabia ele que eu também tinha as minhas. Afinal quem passa por esta vida só colhendo flores ou distribuindo sorrisos com a fartura de uma felicidade plena?””Finalmente um dia ele veio a mim e logo percebi que trazia uma forte carga emocional negativa. Seu relacionamento em casa não ia nada bem. Mal ele começou a falar e teve que fazer uma parada, precisava respirar fundo e tentar segurar as primeiras lágrimas que diziam quase tudo. Mantive um respeitoso silêncio esperando que ele retomasse a narrativa.”O amigo me autorizou a comentar esta história pelo que pode servir de exemplo a alguém. Vejam que ela vale muito mais pelo que aconteceu depois com o tal “João” do que com os problemas de relacionamento dele com a esposa que o levavam para uma depressão quase inevitável.Por isso mesmo detalhes do seu abalado relacionamento não serão por mim abordados para não mergulharmos numa indiscrição injustificável deixando os sentimentos realmente vividos por “Antonio” à mercê da imaginação de cada leitor ou leitora. Continuemos com a narrativa que o amigo me fazia:”A certa altura “Antonio” recebera de alguém uma mensagem que de certa forma falava em amizade, em caráter, em lealdade, que contrastava com seu estado de espírito e com a realidade com a qual convivia. Teria sido apenas uma coincidência ou era mais uma dessas coisas que a vida nos lança de surpresa para podermos ver que há luz além da escuridão e que podemos sempre vencer limites ou barreiras?””Ele resolveu então me revelar a tal mensagem que começava assim: “A Grandeza de uma pessoa não se mede pelo espaço que ela ocupa em nosso coração, mas sim pelo vazio que ela deixa quando está distante.” Estas palavras o fizeram pensar muito a fim de evitar que tomasse alguma decisão precipitada.””A seguir a mensagem ditava uma definição que o atingia em cheio, como se fosse realmente destinada a ele, mas o amigo me garantiu que não conhecia a remetente. Pedi-lhe que me lesse o trecho seguinte: “Há pessoas que, assim como as estrelas, irradiam o brilho de sua luz interior transformando a própria essência em uma existência de carinho e sensibilidade. Você, por exemplo, é uma pessoa iluminada.” Aqui volto eu a falar. Àquela altura eu também fiquei surpreso com o conteúdo da tal mensagem que o amigo dele recebera. Algo me dizia que aquilo poderia ter sim a ver com sua realidade. Cheguei a imaginar que meu amigo, o que me conta a história do “Antonio”, tivesse antes confidenciado a alguém a situação do amigo dele já buscando ajuda e daí outra pessoa resolveu endereçar-lhe palavras de estímulo, de incentivo, pretendendo levantar o seu moral. Nada perguntei, apenas deixei que ele continuasse a me pôr a par do restante do que se continha na tal mensagem. Disse que a seguir estava escrito assim: “O que faz qualquer amizade ser tão especial não é a quantidade de tempo que ela existe, mas sim as partes que a compõem. Ser amigo é ser irmão, é ser parceiro, é saber que mesmo distante caminha ao nosso lado.” – Sábias palavras, sem dúvida. Mas a seguir eu me surpreendi com a afirmação feita pela pessoa remetente daquela mensagem. Na minha visão “Antonio” deveria tê-la conhecido no passado, ainda que desmentisse isso, e a tal pessoa nunca esquecera o que deveria ter havido entre eles. As palavras finais da mensagem a mim não deixavam dúvida de que ou algo bem sério houvera entre eles ou alguém, querendo ajudar, tomava uma posição que apenas iria confundir ainda mais a mente de “Antonio”.Leiam com atenção o trecho que encerrava a mensagem: “Obrigada por você existir e fazer parte da minha vida. Muita luz, paz e amor para você. Desejo sempre a sua felicidade plena.” Segundo o meu amigo após uma longa pausa do “Antonio” este enfim revelou que estava se lembrando de uma jovem que conhecera há muitos anos, quando ainda era solteiro, e que realmente tiveram um caso que o marcou muito. Jamais voltaram a se encontrar e nunca pensaram em casamento. No início ele não ligara o nome da mensagem à pessoa que conhecera. Já havia se passado muitos anos e eles nunca mais tiveram qualquer contato. De qualquer forma a situação de “Antonio” agora é outra e bem ou mal ele se empenha em salvar a atual relação. Afinal, como declarou ao meu amigo, ele ama a esposa. A mim ficou a instigante surpresa de como a tal pessoa o encontrara pela internet. Foi aí que meu amigo me lembrou que o “Antonio” possui um pequeno site de poesias e que costuma freqüentar o facebook. Certamente num desses caminhos ela o encontrou e resolveu enviar aquela mensagem apenas para dizer que ainda está viva, que não o esqueceu, mesmo depois de tantos anos. Parei, pensei e concluí: quantos de nós já não tivemos um caso assim na vida? Às vezes acontece, apenas acontece, e mesmo que nos marque costuma depois ser apenas uma doce lembrança, uma recordação que pode nos trazer algum alívio em momentos de angústia de um presente torturante. E a vida segue seu rumo sem volta.

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