VOLTANDO DE FÉRIAS

    Estamos retornando de nossas merecidas férias, embora durante elas jamais tenhamos deixado de escrever, de pensar, de nos comunicar, de amar, de viver. Voltamos à labuta diária, ou continuamos nela, pois aposentado que trabalha apenas brinca de tirar férias. Há poucas semanas estávamos todos a nos desejar um feliz ano novo e como somos mesmo incorrigíveis ficamos a estender os nossos votos ao mundo como um todo. Quantos de nós enviamos cumprimentos a amigos e familiares almejando que neste 2009 o mundo alcançasse a paz! Os mais crentes fizeram orações na eterna e desgastada esperança de os homens realmente quererem viver em paz.  E os seres humanos, os para além de nós, será que desejam mesmo a paz? Quando divulguei outro dia meu texto “Alô Esperança”, alguns me cumprimentaram, outros discordaram veladamente de forma muito educada, mas outros foram mais fiéis aos conceitos que alimentam de fé, de esperança, e em nome de Deus disseram que jamais eu deveria perder a esperança. Que ela é a última que morre, etc. Obrigado meus amigos, mas eu não disse que não mais alimento esperança em coisa alguma, isso não. Naquela mensagem do texto por mim divulgado procurei deixar claro porém que estou seriamente inclinado a não crer mais na maioria dos seres humanos. Digamos que, na humanidade, nesta que está globalizada, mas não em paz. E falo sério, pois entendo que dizer o contrário seria hipocrisia minha. Fui com Lena assistir ao espetáculo dos fogos de artifício aqui em Cabo Frio, sempre muito bonitos, e lá, entre as dunas, à meia noite, quantos estouraram espumantes (é a moda das novelas que está pegando…) e gritaram repetidamente “Feliz Ano Novo”… “Um Ano Novo de Paz para todos”… e pareciam ou felizes ou alienados de uma realidade que naquele mesmo instante os desmentia. Os noticiários mais confiáveis mostravam as atrocidades que estavam a ser cometidas em Gaza. Enquanto falávamos em paz, quantos estavam morrendo pois o agressor, por ser mais forte e ter maior proteção em todos os sentidos, está liberado para matar. Basta conferir o balanço dos estragos de ambos os lados. A verdade é que este mundo nunca, jamais, esteve totalmente em paz. Meus bons amigos, desculpem se os decepcionarei, mas hoje, mais do que antes, acredito que a esperança não é a última que morre. Ela termina em cada vida que sucumbe por bombas que alguns cinicamente ainda justificam. Bombas que já mataram em muitas outras guerras e que continuam a matar impunemente, e assim parece que será sempre. Por quê? Porque não querem a paz. A esperança morre em cada pessoa que tomba por uma bala perdida, em cada vítima da violência nesta verdadeira guerrilha urbana da bandidagem contra a sociedade em nosso país, por exemplo, sob o olhar complacente de autoridades incompetentes ou coniventes. Cada vida ceifada é uma esperança que morre muito antes de ser a última, como alguns ainda querem acreditar.  Volto de férias sabendo que muitos nem tiveram oportunidade de ver a passagem de mais um ano. Se há felicidade à volta de mim, se há amor ao meu redor, e nos vossos corações também, assim espero e desejo, para além de nossas janelas e portas há todo um mundo lá fora profundamente injusto e cruel.   A própria história desta civilização tem sido, em parte, uma farsa a contar muitas vezes meias verdades e a tentar esconder outras porque soam melhor como mentiras aceitáveis. Assim vamos sendo enganados desde criança e nos formam como aprendizes do que aqueles que escrevem os livros e outros documentos históricos nos impõem. Isto, meus amigos, desde que este mundo existe, podem crer. É como já disse alguém:”A História não fala dos covardes”. Está aí uma verdade indiscutível. Infelizmente a maioria se conforma com o que lhe foi ensinado, não pesquisa, não contra argumenta, não questiona. Dizem que quem procura acha, todavia a maioria sequer tem disposição para procurar, para vasculhar entre verdades que camuflam a verdade mais fiel. Lembro aqui o que disse certa vez Oscar Wilde: “O único dever que temos para com a história é reescrevê-la.”  Não sou dono de verdade alguma, mas a procuro sempre nas entrelinhas, no que não foi escrito ou não foi dito. Então nada de dogmas, verdades absolutas, inquestionáveis, etc. Não aceito fórmulas feitas. Mas estamos voltando de férias com as energias mais renovadas e com bastante disposição de iniciar este ano trabalhando muito, escrevendo muito, indagando muito também, e procurando colocar aquilo no que acredito com a mesma autenticidade e sinceridade de sempre.  Pelo menos para vocês, amigos que me prestigiam e me estimulam a continuar aqui nesses canais abertos onde exponho minhas idéias, faço minhas análises, críticas e comentários, desejo um feliz ano novo.  Quanto ao nosso mundo, espero que possa ter mais juízo e que aprenda a valorizar a paz e a vida, seja menos egoísta e ambicioso. Sei que é muito difícil, mas quem sabe, não? A quem alimentar mais esperança do que eu atualmente desejo toda a sorte possível. Não podemos nunca é abrir mão de nossos sonhos.

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