VOZES DO SINAL

    Semana passado fui à sede do BC no Rio e como sempre faço, encostei em uma das pilastras da calçada e “naveguei” no tempo. Nessas horas, sempre surge um contemporâneo e diz: “Velhos tempos, heim! Não voltam mais! Lembra das assembléias do sindicato aqui fora!?”Além de me lembrar perfeitamente, tenho certeza de que não voltam mais! Foi ali que vi o Paulo Roberto Castro tornar-se um líder, ao aliar a intelegência incomum e ampla visão futura ao incrível poder de estratégia. Foi ali que me senti protegido pela fala incisiva e tranqüila da Mônica Botafogo. Como foi também ali que “viajei” muitos quilômetros na eloqüência do Flávio Ramos.Esses três eram as “grandes estrelas da companhia”. Mas, outras vozes foram indispensáveis no folclore grevista carioca do BC.Havia o casal que debatia suas divergências grevistas nas assembléias. Era um tal “minha nobre colega fulana para lá” e “meu nobre colega cicrano para cá”; Tinha também o revolucionário de carteirinha que só a aparecia quando o assunto já estava decido. Era quando se apossava do microfone e proferia palavras de ordem com voz de comando: “COMPANHEIROS! COMPANHEIROS!”; Outro assíduo ao microfone gostava de ressaltar, “eu sei que todo mundo já falou sobre isso, mas vou falar novamente…”; E havia ainda aquele que adorava massagear o próprio ego dizendo: “Vocês não sabem o que é participar de uma mesa negociação. EU, como tenho esse privilégio posso dizer… EU..”.Houve cenas inesquecíveis como a de um comissionado que argumentou contra a greve, mas acrescentou que aceitaria a decisão da assembléia. Depois não participou da greve e perdeu a vaga cativa na pelada na ASBAC; Outros saboreavam o lanche disponibilizado pelo sindicato, perguntavam pelas novidades e iam – tranquilamente – trabalhar. Também havia debates jurídicos acalorados, recheados por “datas vênias”, entre o antigo chefe da atual procuradoria e um representante do Sinal do mesmo departamento. Incrível mesmo, foi aquele que pediu a palavra, desancou o sindicato e o movimento e fugiu correndo. O que merece um parágrafo à parte foi a genial idéia de se fazer na calçada um corredor de passagem para entrada do banco, ladeado por cadeiras de ferro. O caminho tinha várias curvas e o furão tinha que encarar o olhar reprovador de quem estava sentado nas cadeiras. Só que na hora do almoço, por não ficar quase ninguém por ali, o caminho ficava livre e tinha gente que aproveitava para furar. O antídoto foi espalhar pela passagem centenas de estalinhos de festa caipira. Quando as figuras tentavam entrar sorrateiramente, começava um tiroteio infernal e eram inúteis as tentativas de não se pisar no “campo minado”. Após uma greve fracassada, encontrei a Mônica Botafogo, que profetizou: “O sindicato viveu sua primavera. Agora serão outonos e invernos”. Dou toda razão a ela quando observo que as discussões sobre os rumos do sindicato raramente vão ao cerne da questão (parece que não é do interesse) que é a brochante ausência de qualquer oxigenação.É um continuísmo intolerável. “São sempre os mesmos!”. Não estou falando de renovação etária. Há muita gente na ativa e aposentada que pode dirigir o Sinal. E a conclusão é de que será difícil sairmos ultrapassarmos o “inverno astral” em que caímos há tempos.

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