A difícil tarefa de fazer previsões econômicas

    A palavra adivinhar tem sua origem em Adivinho + ar . Adivinho veio do latim ad divinu. Divinu é a forma reduzida de homo divinu, ou seja, homem a quem os deuses deram o dom de adivinhar, profetizar. O interessante é que o aumentativo de adivinho é economista e o aumentativo de economista é profeta. Não é de admirar que vários deles já anunciaram o fim do mundo.

    Como a política econômica repercute sobre o desempenho da economia com uma defasagem substancial, um processo de estabilização bem-sucedido exige a capacidade de antever as condições econômicas futuras. Se não for possível prever a economia de seis meses à frente, não haverá forma de avaliar como e em que intensidade os instrumentos fiscais e monetários devem ser utilizados para expandir ou contrair a demanda agregada.

    Estamos prestes a comemorar um ano desde o início da atual fase de elevação da taxa básica de juros, que ocorreu na reunião do Copom de 17 de abril do ano passado, quando a Selic passou de 7,25% para 7,50%. O comportamento da inflação ainda é a principal preocupação doBanco CENTRAL, já que os índices oficiais têm ficado no teto da meta fixada pelo governo, de 6,5%. Durante o governo da presidente Dilma Rousseff, vimos a taxa Selic sair de 10,75% em janeiro de 2011, chegar a 12,5% em julho do mesmo ano e, logo depois, iniciar uma espiral de baixa que chegou a uma mínima histórica de 7,25% em outubro de 2012 e durou até abril de 2013. A última reunião do Copom elevou a Selic para 11% ao ano, ou seja, todo corte dos juros feito pelo BC no governo Dilma não só foi devolvido como foi também superado.

    Este comportamento errático da Selic em um período de pouco mais de três anos demonstra, na prática, que é fundamental que exista interação entre as políticas monetária e fiscal. A alteração em uma delas pode influenciar a outra e a interdependência pode mudar o impacto da mudança. Se o Copom eleva a Selic com a finalidade de conter a inflação e o governo não reduz seus gastos, buscando economizar para pagar juros maiores, a efetividade da medida ficará comprometida ou exigirá novo ajuste da taxa.

    Por outro lado, o aumento dos juros tem o efeito colateral de reduzir os investimentos, assim como incentivar o setor privado a poupar mais. Não custa lembrar que a taxa de investimento no Brasil é uma das mais baixas do mundo, de modo que o estoque de capital por aqui cresce lentamente, refletindo a pequena capacidade de crescimento da economia.

    Voltando ao campo fiscal, nos últimos 12 meses a despesa do Governo Federal subiu 7,4%, acima da inflação de 5,91% no mesmo período. Já a arrecadação líquida de transferências (retirando o Refis, a capitalização da Petrobras e o leilão de Libra) cresceu apenas 0,7% acima da inflação, o que é um problema estrutural na medida em que há um crescimento recorrente muito elevado dos gastos públicos atrelados à inflação e ao salário mínimo – em grande medida garantidos pela Constituição, na forma dos diversos programas de transferência de renda existentes, como aposentadorias, pensões, abono salarial, seguro-desemprego, auxílio-doença, LOAS, RMV e as mais variadas bolsas (Família, Pesca, Atleta etc.).

    A conclusão do mercado é que, se não houver uma agenda de reformas constitucionais, os gastos públicos continuarão a crescer de maneira expressiva, acima do crescimento da arrecadação, o que significa uma pressão estrutural no sentido de aumentar o déficit público ou a carga tributária, com seus respectivos efeitos.

    Adicione à equação os problemas climáticos que temos observado no Brasil. A acentuada redução no volume de chuvas poderá levar ao racionamento de energia elétrica para todo o país e de água para diversos estados, gerando forte impacto sobre os preços, principalmente, de alimentos e administrados.

    O atual cenário econômico e as decisões macro e microeconômicas adotadas pelo atual governo nos últimos anos têm levado o mercado financeiro a duvidar de sua capacidade de reverter a situação. Basta observarmos o comportamento das ações das empresas estatais, que subiram vigorosamente depois que as pesquisas sobre satisfação com o governo Dilma pioraram, abrindo a possibilidade de termos um segundo turno nas próximas eleições. Desde 17 de Março, as ações ON da Eletrobras já registraram ganhos acima de 44%; as da Petrobras, 28%; e as do Banco do Brasil, 26%. E, pelo resultado das pesquisas eleitorais divulgadas no último final de semana, essas cotações devem se sustentar.

    Mas o que isso tem a ver com os economistas? Convenhamos que efetuar previsões em um cenário com tantas variáveis não é muito fácil.política monetária, fiscal (ou a falta de), racionamento, eleições, Copa do Mundo, situação da China, Europa, Estados Unidos, Argentina, crise da Ucrânia… Tudo isso nos remete à etimologia da palavra: só mesmo sendo adivinho para fazer previsões econômicas em um cenário como este.

    Fabio Moser é diretor-geral da FAR – Fator Administração de Recursos.

    E-mail: fmoser@bancofator.com.br

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    Fonte: Valor Econômico

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