Dólar recua para R$ 2,20

    Entrada de investimentos externos e piora de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais fazem a moeda norte-americana cair 0,77%

    O dólar aprofundou a tendência de baixa que vem apresentando nos últimos pregões e fechou ontem em queda pelo terceiro dia consecutivo, cotado a R$ 2,203 para a venda. O recuo, de 0,77%, foi determinado pela entrada de recursos externos, atraídos pelas altas taxas de juros no país, e pela desvalorização da divisa nos mercados globais. Motivações políticas, no entanto, continuaram influenciando os negócios. Segundo analistas, a diminuição das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff, captada em pesquisa divulgada no último fim de semana, ajudou a reforçar o viés baixista, num momento em que os mercados perderam a confiança na condução da política econômica.

    Só nas últimas três sessões, a moeda norte-americana acumulou queda de 3,5%. No ano, o recuo já chega a 6,5%, anulando boa parte da alta de 15% ocorrida em 2013. Os investidores aproveitaram a desvalorização da divisa no exterior para testar a tolerância do Banco CENTRALbrasileiro a cotações mais reduzidas. O dólar, no entanto, não encontrou força suficiente para terminar a sessão abaixo de R$ 2,20, apesar de ter rompido essa barreira durante o dia, quando bateu em R$ 2,194.

    “Já não é de hoje que o dólar está mostrando que tem espaço para cair”, disse o analista de uma corretora. As expectativas de que a China poderá adotar estímulos para impulsionar sua economia, atualmente em desaceleração, também ajudaram a divisa a perder força contra moedas emergentes.

    Alguns especialistas acreditam, porém, que cotações mais baixas podem desagradar ao governo, pois, apesar de ajudarem no combate à inflação, prejudicam as exportações. “A queda do dólar abaixo dos patamares atuais tem seu custo. Os importados voltam a ganhar atratividade, e a competitividade dos produtos brasileiros perde força, piorando a balança comercial e deixando a indústria com preços menos atrativos”, escreveram analistas da Lerosa Investimentos em relatório a clientes.

    Apesar do recuo dos últimos dias, o Banco CENTRAL continuou a atuar pesadamente, alimentando ainda mais o movimento de baixa. Logo pela manhã, a instituição manteve a venda diária de contratos de swap cambial, operações que equivalem à venda futura de dólares. No total, despejou mais US$ 198 milhões no mercado. Mais tarde, fez uma operação de rolagem de parte dos swaps que vencem em 2 de maio. Com o dólar na casa dos R$ 2,20, os investidores já começam a questionar a necessidade das intervenções da autoridade monetária no câmbio.

    A entrada de investidores estrangeiros também influenciou os negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), que abriu com alta firme, impulsionada por ordens de compra em valores elevados. A tendência, no entanto, não se sustentou depois que muitos aplicadores decidiram vender seus papéis para aproveitar a valorização dos últimos dias e realizar lucros. O Ibovespa, principal indicador do pregão, terminou o dia em queda de 1%, aos 51.629 pontos. O índice, porém, ainda acumula ganho de 2,4% no mês e de 0,24% no ano.

    A decisão dos investidores de vender os papéis coincidiu com o momento em que foram divulgadas declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que não será candidato nas eleições de outubro. Lula defendeu Dilma, o que significou, para o mercado, o pior cenário: ele não será o substituto dela no pleito. Para analistas, esse foi o motivo que levou ações das estatais a liderarem as quedas. Os papéis ON da Petrobras recuaram 2,84%. Os da Eletrobras, 1,35%.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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