Aécio e Campos costuram alianças

    Por Murillo Camarotto | Do Recife

    O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) desembarcou no fim da tarde de ontem no Recife para um jantar na casa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Presidentes nacionais de seus partidos e pré-candidatos ao Palácio do Planalto, os dois acreditam que suas candidaturas, somadas à de Marina Silva (sem partido), afastam qualquer possibilidade de reeleição em primeiro turno da presidente Dilma Rousseff.

    Nesse interim, o jantar serviu para que Campos e Aécio começassem a delinear um acordo de concorrência pacífica no pleito de 2014. Apesar das boas intenções, não vai ser tão fácil, visto que os dois terão que disputar uma série de “bolas divididas” antes mesmo de o processo eleitoral ser oficialmente iniciado.

    O pernambucano, por exemplo, pretende ganhar o terreno ocupado pelos tucanos entre o empresariado industrial e financeiro. Nesta semana, Campos passou dois dias em São Paulo, onde participou de eventos com o setor imobiliário e portuário. Na semana passada, o americano JP Morgan informou em relatório que vê o governador de Pernambuco como principal adversário de Dilma nas eleições do ano que vem.

    Ainda sem apoio oficial de nenhum partido para 2014, o PSB também quer “tomar” o PPS, que nas últimas eleições presidenciais compôs com o PSDB. Apesar de radicado em São Paulo, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, é pernambucano e tem demonstrado simpatia à ideia de fechar com Eduardo Campos.

    Outro caso de eventual disputa entre Campos e Aécio, este um pouco mais complicado, é o PDT, que apesar de integrar a base de apoio ao governo federal, pode estar em outro palanque no ano que vem. Um dos principais nomes do partido, o senador Cristovam Buarque (DF) tem defendido nos bastidores o apoio ao governador de Pernambuco.

    Já o Democratas, que chegou a flertar com Campos, tende a seguir com os tucanos. Na avaliação de um aliado do governador de Pernambuco, a aliança com o DEM não seria um caminho natural para o PSB, apesar de não ser considerada esdrúxula. “O governador Miguel Arraes [avô de Campos] já dizia que não há problema em se alinhar com os conservadores, desde que eles venham para ser minoria”, disse a fonte.

    Diante deste cenário, Campos e Aécio analisaram alianças em Estados como São Paulo, Paraná, Paraíba e Alagoas. O senador sinalizou que poderá dividir os palanques de São Paulo e Minas Gerais. Disse que a aliança entre os dois partidos é “muito sólida” nesses dois Estados e que há chance de pacto em diversas unidades da Federação.

    Os presidenciáveis também debateram a estratégia para um eventual segundo turno, com um dos dois enfrentando a presidente Dilma. Há, em Pernambuco, a tranquilidade de que o tucano apoiaria Campos com entusiasmo. Em uma situação inversa, com Aécio no segundo turno, não se pode dizer o mesmo.

    Apesar do bom relacionamento e alguma amizade, Campos não confia na capacidade do mineiro ser presidente da República. “A tarefa de condução do país vai além da simpatia e de algum talento político. É preciso ter pulso forte e estar acostumado a enfrentar as tempestades”, disse outro interlocutor privilegiado de Campos, antes de lembrar que o pernambucano é “workaholic”, enquanto Aécio seria mais “relaxado”.

    A hipótese de Campos apoiar Dilma se ficar fora do segundo turno é o que tem, segundo integrante do PSB, alimentado a reaproximação do governador com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em vez de barrar o plano do pernambucano, Lula estaria apostando em garantir que Campos não desgarre da base governista.

    Mais cedo, o pessebista disse que o país precisa de mais investimentos em infraestrutura energética, mas saiu em defesa do governo federal quando questionado sobre o apagão que atingiu anteontem o Nordeste. Em referência ao período em que o país era governado pelo PSDB de Aécio Neves, Campos afirmou que a oferta de energia já foi bem mais crítica. “A questão da energia já foi muito mais preocupante no Brasil, quando apagou mesmo”, disse.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorPopulação brasileira só crescerá até 2042
    Matéria seguintePP, PSD, PT e PSB lideraram ausências na sessão pró-Donadon