Por Flavia Lima e Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
A elevação de juros dos últimos meses, segundo alguns economistas, também pode ser vista como um sinal do aumento da fragilidade externa do país, pela necessidade maior de atrair fluxo de capital estrangeiro, sobretudo de curto prazo, para aliviar as contas. Esse é o tipo de investimento que desponta nos últimos meses enquanto há retração em volume e também na qualidade do Investimento Estrangeiro Direto (IED) – fluxo voltado a investimentos na produção, que registra uma fatia cada vez maior de empréstimos intercompanhia, como destaca Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
No IED, os empréstimos intercompanhia são vistos como de pior qualidade, pois são formados por recursos da matriz para suas filiais no Brasil, em grande medida para investir em títulos. Já a participação no capital corresponde a recursos efetivamente usados na criação, ampliação ou aquisição de negócios e, por isso, considerados de melhor qualidade.
Para Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, há indicativos de que o país precisa cada vez mais de capital externo para equilibrar suas finanças e resistir a pressões externas. O risco, afirma ele, é esse capital, em boa parte capital de curto prazo, deixar de vir por alguma questão externa ou interna. “Vai que um dia o mundo diz que acabou o milho e a pipoca e não vai mais financiar? É esse o risco que está aumentando e está levando à deterioração de expectativas fundamentadas nos números do balanço de pagamentos”.
“Enquanto estivermos oferecendo juro nominal de 13%, o mercado financeiro parece estar disposto a nos financiar”, pondera José Luis Oreiro, da UFRJ, ao citar os juros pagos em títulos da dívida pública. “O problema é o que vai acontecer com o humor dos mercados financeiros internacionais se as condições de liquidez na Europa e Estados Unidos mudarem”. Além disso, pondera que a entrada de capital não dura para sempre. “Se você continuar aumentando o déficit em conta corrente, o pessoal vai achar que o risco de uma desvalorização súbita do câmbio não compensa o diferencial de juros e sai todo mundo correndo”.
Para alguns, “acendeu a luz amarela”, mas descartam algo mais grave. “Não estamos à beira do caos como a redução da nota de risco, sugere”, diz Felipe Salto, da Tendências Consultoria. “Ao contrário, estamos muito distantes de uma crise no balanço de pagamentos, porque temos câmbio flutuante e reservas elevadas”.
Salto não descarta o risco de deterioração do balanço de pagamentos, mas ressalta que o juro doméstico mais alto deverá evitar o mal maior, compensando o risco, de forma que o Brasil continue sendo um bom destino para os dólares do investidor externo. “Vamos pagar mais juros sobre a dívida, mas vamos garantir alguma atratividade ao capital externo”.
Quanto aos fluxos de investimentos estrangeiros para renda fixa e ações, ainda que eles venham e voltem com uma “facilidade tremenda”, diz Salto, as entradas mostram que no primeiro bimestre de 2014 foram recuperadas todas as saídas do último trimestre de 2013 e ainda entraram mais US$ 3 bilhões.
Segundo Salto, o risco é maior, mas o balanço de pagamentos não passará por uma crise pela proteção do câmbio flutuante. Mas, pondera, que há uma limitação ao processo de crescimento com o que chamou de “poupança fácil” (poupança externa), pois “o país não é mais a bola da vez”.
Fonte: Valor Econômico