Alta do dólar traz correção para juros

    Silvia Rosa e Lucinda Pinto | De São Paulo

     

    A mudança de estratégia do Banco CENTRAL na condução da rolagem do lote de US$ 10,060 bilhões que vence em 1º de julho, ampliando o número de contratos de swap a serem renovados, ajudou a acalmar o mercado e diminuir a pressão de alta do câmbio.

    Ontem, a moeda americana subiu apenas 0,04%, encerrando o dia a R$ 2,2780. Dúvidas sobre a continuidade do programa de intervenção no câmbio e um cenário de maior aversão a risco no mercado externo, no entanto, continuam impulsionando a retomada da demanda por hedge.

    Depois da alta de 1,61% do dólar na segunda, impulsionada pela perspectiva de que o Banco CENTRAL poderia deixar de rolar mais da metade do lote de US$ 10 bilhões em 1º de julho, a autoridade monetária decidiu rever sua estratégia de atuação e dobrou o número de contratos rolados no leilão realizado ontem. Foram renovados 10 mil contratos, cuja operação somou US$ 495,1 milhões. Se mantiver o mesmo ritmo até o fim do mês, o BC terá concluido a rolagem de US$ 8,750 bilhões do lote total, deixando vencer US$ 1,310 bilhão.

    “O BC ainda tem o controle da situação, mas está visando a eleição, e o mercado já mostrou que vai precisar dessa liquidez lá na frente”, afirma Italo Abucater, especialista de câmbio da corretora Icap. O analista lembra, no entanto, que o câmbio agora deve se estabilizar em outro patamar, entre R$ 2,25 e R$ 2,30.

    O BC vem aproveitando a melhora do cenário internacional para reduzir a sua posição em swaps cambiais, que hoje soma US$ 86,273 bilhões, o que na prática significa uma retirada de dólares do mercado. Em maio, o BC liquidou cerca de US$ 4,65 bilhões em swaps, quase o dobro dos contratos que ele deixou de renovar em abril, que somaram US$ 2,233 bilhões. Além disso, ele deixou vencer um volume de cerca de US$ 3,5 bilhões em linha de venda de dólar com compromisso de recompra. Isso levou a um aumento da busca por hedge, em meio a um cenário de interrupção do ciclo de aperto monetário frente à deterioração do crescimento econômico.

    Há 27 dias do prazo previsto para acabar o programa de intervenção no câmbio, que compreende a venda diária de US$ 200 milhões por meio de contratos de swap cambial, os investidores começam a especular sobre a intenção do BC em prorrogar o programa. “Acho que com o dólar perto de R$ 2,30, o BC vai fazer a renovação do programa para não comprometer a eleição. Além disso, é esperado um aumento da remessa de dividendos no terceiro trimestre que costuma empurrar o câmbio para cima”, afirma Abucater, destacando que o fluxo cambial tem se mostrado mais negativo.

    A alta do dólar e das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) levaram os juros futuros a fecharem mais uma vez em forte alta ontem. Essa correção nas taxas dos títulos americanos pegou o mercado local no contrapé, que estava bastante vendido, o que explica o ajuste observado ontem.

    Na BM&F, o DI para janeiro de 2017 fechou a 11,80%, ante 11,69% do pregão anterior. Já o DI para janeiro de 2016 encerrou a 11,47%, ante 11,43% do fechamento de segunda.

    Um profissional observa que, após o forte fluxo de investidores estrangeiros nos últimos dois meses, que determinou uma queda expressiva das taxas dos contratos de DI e dos títulos públicos, foi o fluxo vendedor local que detonou uma “segunda pernada” de queda dos juros recentemente. Esse movimento se baseava na condição do dólar, para baixo, e dos juros dos Treasuries abaixo dos 2,50%, diante de uma cenário de recuperação mais lenta da economia americana. Mas, nesta semana, esse movimento mudou de direção, diante da perspectiva de que os números de emprego dos Estados Unidos, que serão divulgados nesta semana, virão fortes.

    Para um mercado muito vendido, a mudança abrupta do sinal é sinônimo de perdas. “Se os dados de emprego desta semana vierem mais fortes, podemos assistir a uma correção dos Treasuries e do dólar no mundo, justamente quando o mercado local havia ampliado exposição a risco prefixado”, diz um analista.

     

    Fonte: Valor Econômico

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