O Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL pode até ter acertado na sua mais recente alta dos juros básicos e na sua decisão de ir mais devagar de agora em diante, mas há o que melhorar em sua comunicação, a julgar pela reação do mercado financeiro. Embora a decisão tenha sido mais conservadora que o esperado, os eventuais ganhos à credibilidade da política monetária foram esvaziados por sinais contraditórios emitidos pelo colegiado.
Na semana passada, o Banco CENTRAL subiu os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual, de 11,25% ao ano para 11,75% ao ano. Não se pode ignorar que o movimento era amplamente esperado pelo mercado apenas porque o próprio Banco CENTRAL sinalizou previamente que planejava intensificar o aperto monetário para garantir a convergência da inflação à meta em 2016.
O comunicado à imprensa divulgado logo após a reunião do Copom, porém, foi entendido como um sinal de falta de determinação da autoridade monetária. Nele, o Banco CENTRAL indica que a alta mais forte na taxa básica ocorreu apenas em dezembro e que, partir de agora, “o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia”.
Entre os analistas econômicos, houve certa confusão, com alguns deles entendendo que o Banco CENTRAL informou que subirá os juros em 0,25 ponto percentual em sua reunião de janeiro e que vai dar um fim precoce ao ciclo de alta de juros. Outros entenderam que, na verdade, o BC estaria apenas esvaziando a hipótese de uma alta de 0,75 ponto percentual, que ganhava força no mercado, e que seguirá com o ritmo de 0,5 ponto percentual até concluir seu trabalho.
No mercado de juros, a reação foi desfavorável. Os ativos negociados na Bovespa BM&F precificavam, até então, pelo menos três altas de 0,5 ponto percentual na meta da taxa Selic, refletindo a sinalização dada pelo próprio Banco CENTRAL de intensificação do aperto monetário. A mensagem de que, agora, os ajustes na taxa básica serão feitos com parcimônia provocou uma reviravolta nas apostas. As taxas mais curtas caíram, incorporando a indicação de que o Banco CENTRAL vai subir o juros menos do que o esperado; e as taxas mais longas avançaram, numa aposta de que a política monetária terá que ser apertada mais tarde para fazer o trabalho que não está sendo executado a contento neste momento.
Os juros futuros são um termômetro importante do acerto na política monetária e, sobretudo, de sua comunicação. Quando bem conduzidas, produzem resultados virtuosos. Em fins de outubro, o Banco CENTRAL subiu os juros de forma inesperada, e o mercado de juros recebeu bem a notícia. As taxas curtas subiram, mas as longas recuaram, queimando boa parte do prêmio embutido para o risco inflacionário.
Hoje, porém, o mercado está confuso, com dúvidas sobre o compromisso do Banco CENTRAL de perseguir a meta de inflação – o que não deixa de ser um paradoxo, porque o Copom retomou de forma firme e tempestiva, com ações e não apenas palavras, o ciclo de alta de juros. Os prejuízos à imagem do BC se traduzem no desancoramento das expectativas de inflação e no aumento dos prêmios de risco, que encarecem a rolagem da dívida pública e desencorajam investimentos produtivos.
Embora a indicação de parcimônia tenha sido mal recebida pelo mercado, é possível encontrar bons motivos para defendê-la. Já foram feitos dois movimentos maiores que o esperado na meta da taxa Selic, que se traduzem em aperto nas condições financeiras. Os juros básicos estão claramente acima da taxa neutra e a economia já cresce abaixo de seu potencial.
O aperto monetário feito na primeira fase deste ciclo, até abril passado, ainda não se transmitiu plenamente à economia e aos preços. É bem provável que o BC tenha uma ajuda extra da política fiscal, que tende a ser contracionista em 2015.
O essencial é o BC comunicar bem seu cenário econômico para reassumir o controle das expectativas do mercado financeiro. Não faltarão oportunidades: além da tradicional ata do Copom, que sai na quinta-feira, teremos amanhã um depoimento do presidente do Banco CENTRAL,ALEXANDRE TOMBINI, na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Neste mês, o BC também dará novas explicações em seu Relatório Trimestral de Inflação.
Fonte: Valor Econômico