Análise: Bancos centrais focam Jackson Hole, e o BC local, o Congresso

    Angela Bittencourt | De São Paulo

    Os Bancos Centrais são o assunto da semana no mercado financeiro internacional com o Simpósio de Jackson Hole, nos EUA. A exposição pública de presidentes de Bancos Centrais justifica a expectativa, dado o potencial de repercussão nos mercados emergentes de políticas executadas pelos gigantes Federal Reserve(Fed) e Banco Central Europeu (BCE). É certo, porém, que muita água vai rolar até sexta-feira, quando Janet Yellen e Mario Draghi devem se pronunciar no simpósio. Até lá, o Banco Central do Brasil será presença constante no mercado local – direta ou indiretamente, em função da imbricada relação entre as políticas monetária e fiscal.

    O mercado financeiro está focado na política fiscal, e o BC também. Inclusive porque a política monetária está “dada”, segundo o jargão dos operadores. Hoje a 9,25%, a taxa Selic deve cair mais 1 ponto percentual, para 8,25% portanto, no encontro do Copom de 5 e 6 de setembro. Restarão, a seguir, mais duas reuniões do colegiado neste ano – em outubro e dezembro – e uma conta de chegada da Selic a 7% ou 7,5%, intervalo em que os bancos já acomodam suas expectativas.

    IPCA-15 de agosto será divulgado na quarta pelo IBGE e não desperta preocupação ou expectativa porque as estimativas do mercado para o indicador apontam alta na passagem mensal – de variação negativa para positiva – sem que a trajetória de queda no cálculo em doze meses seja revertida. A inflação continua, portanto, conspirando a favor da flexibilização monetária.

    Não há semelhante certeza, contudo, quanto aos resultados que virão da agenda legislativa. São menos previsíveis, mas também relevantes para a condução da política monetária – agora ou daqui a pouco.

    Hoje será retomado o debate sobre a Taxa de Longo Prazo (TLP) com a leitura do parecer do relator Betinho Gomes (PSDB-PE). A definição dessa matéria interessa e muito ao BC porque, se adotada como novo indexador dos contratos de financiamento do BNDES, a TLP acenará com economia na conta de subsídios bancados pelo Tesouro. Em caso negativo – se perdurar a resistência à mudança, inclusive, do setor empresarial – a história será outra.

    Para o BC, a mudança da TJPL para a TLP – que terá menor diferencial na comparação com os Juros de mercado – aumentará a potência da política monetária. No tempo, o BC poderá fazer mais com menos taxa de Juros.

    A proposta do governo para a deficitária meta fiscal – a começar deste ano e do próximo com aumento, respectivo, de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões e de R$ 129 bilhões também para R$ 159 bilhões – sendo aprovada também emite sinal positivo para o BC. Embora não se espere sinal de melhora nas contas públicas, como evidencia a própria revisão de metas feita pela equipe econômica, a definição de até onde o governo pretende esticar o resultado negativo faz diferença.

    O projeto do acordo de leniência no âmbito do BC e da CVM será tema de audiência pública nesta semana, que deve registrar circulação, pelo Congresso, dos indicados para assumir a Diretoria de Administração e a Diretoria de Fiscalização do BC. A dupla deve buscar apoio para a sabatina que enfrentarão na semana que vem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Serão sabatinados Maurício de Moura e Paulo Sérgio Neves de Souza.

    Também na semana que vem, no dia 31, termina o prazo para que o Executivo envie a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2018 ao Congresso.

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorDesemprego após recessão custa a cair, indica estudo
    Matéria seguinteGoverno dá uma guinada e decide privatizar Eletrobrás