Beneficiada mais uma vez pela oferta de alimentos e pela lenta recuperação da atividade econômica, a inflação deve ter apresentado nova queda no acumulado de 12 meses encerrado em agosto. De acordo com a estimativa média de 24 Instituições Financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,32% em agosto, mais do que os 0,24% registrados em julho.
Por outro lado, a estimativa média para o acumulado de 12 meses é de 2,6%, abaixo dos 2,71% de julho. Se confirmado, será o 19º recuo seguido nesse tipo de comparação. O resultado será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De modo geral, o cenário continua “bem favorável” para a inflação, segundo Renato Ferreira, economista da 4E Consultoria. Em seus cálculos, o IPCA terminou agosto com alta de 0,3%. No acumulado de 12 meses, o índice estimado pela 4E é de 2,57%.
O grupo Alimentação e Bebidas, influenciado pela grande oferta de alimentos in natura, apresentou queda de 0,76% em relação a julho, de acordo com Ferreira. A dinâmica favorável dos preços de alimentos também é destaque nas análises dos bancos Santander e BNP Paribas.
Já o grupo Habitação deve ter alta de 1,08%, nos cálculos da 4E, por causa do impacto da mudança da bandeira tarifária para a cor vermelha e do reajuste tarifário da Eletropaulo. O grupo Transportes, por sua vez, deve apresentar movimento semelhante (alta de 1,24%), influenciado pelo impacto do aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis.
Independentemente dos resultados de agosto, a conjuntura inflacionária continua positiva para o país, segundo Ferreira. Um exemplo, de acordo com ele, é a inflação de serviços, mais suscetível à política monetária, que deve continuar a apresentar desempenho comportado nos próximos meses.
O cenário amplo é favorável, mas Ferreira calcula que o recuo da inflação no acumulado de 12 meses está chegando perto do fim. Um dos motivos é o que ele chama de “efeito composição”: a substituição das baixas taxas do IPCA registradas nos últimos meses de 2016 por outras ligeiramente mais altas neste fim de ano, que eleva o indicador no acumulado de 12 meses. Outro fator são os alimentos, cujos preços devem começar a subir com mais força a partir de outubro. Mesmo assim, a 4E calcula que a inflação terminará este ano em 3,5% e o ano que vem em 3,8% – em ambos os casos, abaixo da meta.
O Haitong destaca a perspectiva favorável para a inflação não só até o fim de 2017, mas para um prazo mais longo. “O comportamento da inflação subjacente (ou núcleo da inflação, que exclui itens com preços mais voláteis) reforça essa percepção”, dizem os economistas do banco em relatório. A instituição financeira calcula que a média dos núcleos deve ficar em 0,25% em agosto e em 3,8% no acumulado de 12 meses.
“Portanto, a retração observada nos preços não tem sido limitada a alguns itens, mas um fenômeno disseminado”, diz o relatório. “Mais do que isso, quando observadas as previsões de inflação para os próximos anos, todas elas apontam para leituras compatíveis com a meta até 2020.” O banco espera IPCA de 0,26% em agosto e de 2,53% no acumulado de 12 meses.
Fonte: VALOR ECONÔMICO