Tainara Machado e Arícia Martins De São Paulo
Após a alta de 0,67% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, os economistas consultados pelo Banco CENTRALvoltaram a estimar que o índice oficial de inflação encerrará 2014 dentro do intervalo permitido pelo regime de metas. De acordo com o Boletim Focus divulgado ontem pelo BC, a mediana das estimativas para o índice passou de 6,50% para 6,39% na última semana.
Para os economistas ouvidos pelo Valor, no entanto, a melhora das expectativas está mais relacionada a uma questão estatística, com a surpresa positiva de abril, do que com perspectiva de dinâmica mais favorável para os preços neste ano. Luis Otávio Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, revisou de 6,4% para 6,35% sua estimativa para o IPCA neste ano em função da inflação observada no mês passado, menor do que a estimativa de 0,81% que estava contemplada em seu cenário.
No entanto, o economista afirma que não incorporou integralmente a surpresa positiva com o IPCA de abril a seu cenário porque elevou a estimativa de alta da tarifa de energia residencial neste ano, de cerca de 10% para 15%, em função dos reajustes que têm sido aprovados recentemente.
A Icatu Vanguarda, que estimativa que a inflação iria superar o teto de 6,5% neste ano, passou a projetar alta de 6,4% para o IPCA em 2014 por causa do resultado divulgado na semana passada. No entanto, Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da gestora de ativos, afirma que não é possível esperar melhora da dinâmica inflacionária para frente, a despeito da desaceleração observada no mês passado, já que o índice de difusão continua em torno de 70%.
“Temos sazonalidade positiva nos próximos meses, em que em geral os alimentos entram em deflação, mas os riscos ainda são relevantes”, diz o economista, já que a inflação de serviços acumula alta de 9% nos últimos doze meses, enquanto a possibilidade de eventos climáticos como o El Niño no meio do ano poderia causar nova pressão de alimentos in natura.
Mesmo com a “folga” dada pelo resultado divulgado na semana passada, Leonardo Costa França, da Rosenberg & Associados, preferiu manter em 6,3% sua previsão para o indicador em 2014. “Se a inflação desacelerar mais, aumentam as chances de um reajuste maior da gasolina”, diz o analista da Rosenberg. A consultoria conta com uma correção de 10% do combustível, depois das eleições.
Um sinal de que a melhora das expectativas não foi disseminada é que a mediana das projeções dos analistas que mais acertam as estimativas para o IPCA no médio prazo, o grupo “Top 5”, subiu pela segunda semana consecutiva, de 6,67% para 6,69%.
A MB Associados, que faz parte desse grupo, elevou a projeção de inflação de 6,5% para 7,0% na última semana, segundo Sergio Vale, economista-chefe da consultoria, por causa dos riscos crescentes. Em sua avaliação, a taxa de câmbio deve voltar a se desvalorizar e encerrar o ano em R$ 2,40, com a aproximação das eleições, das quais a presidente Dilma Rousseff deve se sair vitoriosa, afirma. Outro risco, diz, são aumentos de preços com a Copa do Mundo. “Difícil imaginar nesse cenário a inflação cedendo, especialmente com um governo que renega o uso mais intenso da política monetária e da política fiscal para controlar a inflação”.
Fonte: Valor Econômico