João Valadares
O Solidariedade começou a coletar assinaturas em novembro de 2011. Estranhamente, uma das firmas de apoio à criação da sigla é de um servidor do Senado que morreu cinco anos antes: José Washington Chaves. A Justiça Eleitoral invalidou a ficha. Mas esse não é o único problema. Funcionários da Casa também negam ter subscrito documento a favor da legenda. No entanto, seus nomes constam em lista do Solidariedade. O Correio apurou que dos 589 apoiadores apresentados no Cartório Eleitoral da 14a Zona, na Asa Norte, 525 são servidores do Congresso Nacional ou do TCU. O que reforça as suspeitas de fraude, apesar das negativas do dono do partido, o deputado Paulinho da Força.
Enquanto isso, Marina briga para criar a Rede
A lei exige 492 mil assinaturas para a fundação de um partido. A Rede apresentou 660 mil, mas cartórios eleitorais rejeitaram 95 mil. “Sem justificativa”, reclama a ex-ministra, que levanta a suspeita de abuso e fez apelo ao TSE pelo reconhecimento das firmas. Essa decisão será tomada hoje à noite pelos sete ministros da Corte. Caso neguem o pedido, Marina Silva—que teve quase 20 milhões de votos na eleição presidencial anterior e hoje aparece como o maior obstáculo à reeleição de Dilma—deve ficar fora da disputa em 2014. A posição do tribunal terá influência também nas eleições do Distrito Federal. Se for criada, a nova legenda deve ter a adesão de Chico Leite e Reguffe, dois campeões de voto em 2010.
Até morto assina ficha do Solidariedade
Uma das fichas de apoio do Solidariedade — cujo registro foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na semana passada — registrada no Cartório Eleitoral da 14ª Zona, na Asa Norte, é “assinada” pelo ex-servidor do Senado José Washington Chaves. Detalhe: ele morreu aos 82 anos, em 5 de agosto de 2006, e o Solidariedade só começou a recolher firmas em novembro de 2011. Na outra ponta da nebulosa criação do partido do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (ex-PDT-SP), várias pessoas que constam como apoiadoras dizem nunca terem assinado nenhuma ficha.
O Correio verificou que, dos 589 nomes registrados no cartório eleitoral da Asa Norte como apoiadores do Solidariedade, 525 são funcionários da Câmara, do Senado ou do Tribunal de Contas da União (TCU), mais um indício forte de que as fichas fraudadas têm origem no Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis). Ontem, o PDT ingressou com um mandado de segurança para tentar anular o julgamento no TSE que confirmou o registro do Solidariedade.
Um ato da Primeira-Secretaria do Senado de 2 de fevereiro de 2009 prova que o ex-servidor José Washington Chaves morreu em 2006. No documento, a viúva, Marina Rodrigues Chaves, pede o pagamento dos valores devidos e não recebidos em vida pelo funcionário referentes a parcelas adicionais. No Tribunal Superior Eleitoral, entretanto, o título do ex-servidor ainda consta como regular. A assessoria de comunicação da Corte informou que não foi dada baixa porque, quando ele faleceu, já tinha mais de 70 anos e, por isso, não era mais obrigatório votar nas eleições.
Procurado pelo Correio para comentar o assunto, o deputado Paulinho da Força afirmou que o fato não tinha nenhuma importância, porque o cartório rejeitou a ficha de Chaves. O parlamentar disse ainda que vem sendo vítima de sabotagem. “Estão sacaneando a gente em Brasília. Não vou mais discutir ficha. Vocês ficam nessa. Essas fichas não existem, já foram reprovadas. É provável que exista uma sabotagem. Levam a ficha para casa e colocam o nome de alguém. O quem importa são as assinaturas que vieram para o Tribunal Superior Eleitoral”, declarou.
Reclamações
Uma nova leva de filiados do Sindilegis descobriu ontem que seus nomes, sem nenhuma autorização, constam como apoiadores do partido fundado por Paulinho da Força. Várias pessoas telefonaram para a liderança do PDT e informaram que as respectivas assinaturas haviam sido falsificadas. Até o nome da mulher do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Gladys Buarque, aparece na lista registrada pelo Solidariedade num cartório eleitoral da Asa Norte. Gladys afirma que nunca assinou ficha alguma.
Outro caso é o do jornalista da TV Câmara Antônio Vital. Nas redes sociais, ele protestou contra a inclusão do seu nome. “Acabo de ser informado de que minha assinatura consta da lista de apoio à criação do partido Solidariedade, esse do Paulinho da Força. Só que eu não assinei nada. Aliás, queria que metade dos partidos simplesmente não existisse”, reclamou em seu perfil em uma grande rede social.
Aécio critica
ação palaciana
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou ontem a ofensiva do Planalto na tentativa de cooptar o Solidariedade para a base aliada. “É o Estado, a população brasileira, pagando pela migração de parlamentares da oposição para a base. Houve a criação de um partido que não nasceu na órbita do governo, mas já está sendo cooptado também, em parte, pelo governo. Isso depõe contra a democracia”, afirmou Aécio, provável candidato tucano à sucessão presidencial em 2014. O senador disse ainda que torce para que o partido de Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, seja formado a tempo de entrar na disputa do próximo ano.
Fonte: Correio Braziliense