Os bancos suspenderam as operações de crédito consignado a servidores públicos federais, uma das maiores carteiras de empréstimos com desconto em folha do país. A suspensão veio após a empresa Consist, responsável pelo sistema que opera os contratos, ser denunciada na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Os empréstimos em andamento não foram afetados, apenas novas operações.
Embora não existam dados oficiais sobre o tamanho desta carteira, estima-se que possa chegar próxima a R$ 15 bilhões. Como um todo, o saldo de crédito consignado para servidores públicos encerrou junho em R$ 163,3 bilhões, avanço de 11% no acumulado 12 meses.
Após as denúncias, as instituições decidiram rever a participação no convênio para a concessão de crédito aos servidores federais. O acordo foi firmado em 2009 entre o Ministério do Planejamento e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e a Consist. Ontem, a ABBC formalizou o pedido de rescisão contratual com a Consist.
Na avaliação do executivo de um banco que opera na modalidade, a Consist tinha condições técnicas de operar o sistema, e que o eventual pagamento de propina pela empresa estava fora do controle das instituições financeiras.
Diante dos problemas envolvendo a empresa de software, os bancos negociam a mudança do sistema para a CIP, conforme apurou o Valor. A companhia, controlada pelas instituições financeiras, já é responsável por operar o sistema de crédito consignado para os funcionários do Estado de São Paulo e passou a atuar no segmento apenas recentemente.
Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que os bancos acompanham o caso do ponto de vista técnico, com o objetivo de colaborar com o Ministério do Planejamento na migração para um novo sistema de processamento das folhas de pagamento, garantindo a continuidade do serviço para os servidores.
Também em nota, a ABBC, que representa bancos médios, informou que a escolha da Consist para operar o software dos contratos de consignado para servidores federais ocorreu após avaliação de que a empresa apresentava melhores condições de atender os requisitos técnicos e operacionais. “Até então, não havia conhecimento de qualquer informação pública que desabonasse seu trabalho ou conduta.”
A Consist foi denunciada na 18ª fase da Lava-Jato, batizada de “Pixuleco 2”. A PF investiga a suspeita de que a Consist pagava propina a empresas indicadas pelo ex-vereador do PT de Americana (SP), Alexandre Romano, o “Chambinho”, apontado como operador dos desvios de dinheiro e descrito como a chave para celebração de contrato com Ministério do Planejamento.
Fonte: Valor Econômico