Bancos brasileiros puxam déficit no fluxo cambial

    Em agosto, o saldo ficou negativo em US$ 5,85 bi. No acumulado do ano, está positivo em US$ 2,23 bi

    Natália Flach
    São Paulo

    O Brasil registrou um déficit expressivo no fluxo cambial em agosto. Segundo dados divulgados pelo Banco Central ontem, o saldo ficou negativo em US$ 5,85 bilhões, ante uma saída de US$ 896 milhões no mesmo mês do ano passado. À primeira vista, o volume 6,5 vezes maior pode parecer uma fuga de capitais provocada pelas incertezas sobre a política monetária nos Estados Unidos mas os motivos vão além desse fator.

    Em 2011, os bancos brasileiros contraíram empréstimos externos e, no mês passado, pagaram a dívida. O prazo de dois anos não foi por acaso: era o mínimo para escapar do IOF de 6% incidente sobre captações inferiores a esse período. As instituições decidiram tomar crédito, naquele momento, impulsionadas por medidas macroprudenciais que tinham como intuito interromper a sobrevalorização do real — o BC reduziu os limites legais das posições “vendidas” à vista.

    De janeiro a agosto, o fluxo ficou positivo em US$ 2,23 bilhões ante o saldo de US$ 22,98 bilhões do mesmo período do ano passado. Esses números seguem em linha com os dados do balanço de pagamentos. Entre janeiro e julho deste ano, o resultado ficou no azul em US$ 6,7 bilhões ante um volume de US$ 22,4 bilhões no mesmo período do ano passado. “A nossa projeção é que vai chegar ao fim do ano em US$ 4,3 bilhões, sendo que, no ano passado, foi de US$ 18,9 bilhões. Isso explica por que o câmbio tem se desvalorizado”, comenta Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. “Dependendo do cronograma que o FED (Banco Central dos Estados Unidos) vai anunciar a retirada dos estímulos, pode afetar o fluxo. Mas o programa do BC deve ser suficiente para manter a taxa de câmbio mais previsível. Caso tenha maior estresse ou volatilidade, pode usar as reservas em mercado à vista”, acrescenta.

    A autoridade monetária tem mantido fechado até agora seu cofre de US$ 370 bilhões em reservas internacionais, mas pode precisar recorrer a ele nos próximos meses se investidores continuarem a desconfiar do crescimento econômico do país neste ano.

    Em 22 de agosto, o Brasil apresentou um plano de US$ 60 bilhões para defender o real contra vendas generalizadas de ativos de mercados emergentes. A estratégia é baseada na oferta de contratos derivativos, o que significa que o BC pode satisfazer a demanda do mercado por dólares sem ter de se desfazer de suas reservas. Com Reuters

     

    Fonte: Brasil Econômico

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