Juro básico deveria ser de 8%

    Número é resultado de exercício feito pelo ex-ministro Delfim Netto, que avisa: não há uma fórmula perfeita

    Léa De Luca
    São Paulo

    É difícil dizer qual seria a taxa de juros ideal para o Brasil. “É uma daquelas invenções de economista, muito interessante, mas ninguém sabe como medir”. Ressalva feita, o professor e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto fez um exercício para atender à curiosidade da plateia que assistia a sua apresentação durante o Congresso C4, de meios de pagamento, que começou ontem em São Paulo. O resultado, segundo Delfim, é uma taxa de 8% ao ano, “que vai oscilar para cima e para baixo de acordo com a conjuntura. Mas se o governo for bem sucedido, são esses 8 % que vão prevalecer”.

    Para Delfim, não há motivos para que o país tenha uma taxa de juro real diferente da média mundial — segundo ele, algo entre 2% e 3 %. A essa taxa, Delfim juntou a meta de inflação do governo, de 4,5% ao ano. E acrescentou: “Também não sei como determinar qual o crescimento potencial da economia brasileira. Mas só pode ser igual à taxa de juro real”.

    Em sua palestra, o ex-ministro elogiou e criticou ações do atual governo. Em relação ao dólar, foi categoricamente contra o que ocorreu nos últimos anos: “Manter o dólar baixo para segurar a inflação destruiu o setor exportador brasileiro. E, além disso, entregou ao exterior a demanda da tal nova classe média que surgiu com o aumento da renda”.

    Em relação ao aumento da renda, também disoarou: “O governo quis aumentar salários sem promover o crescimento. Isso gera inflação. Só não gerou antes porque desde 2002 soprava um vento a favor no mercado internacional, mas agora isso acabou”.

    De outro lado, o ex-ministro elogiou o programa Bolsa Família. Para ele, este é um expediente muito barato para recuperar a civilização. “Não se pode conviver com a miséria. E o papel do Estado é reduzir as desigualdades”. Se ficar só por conta do mercado, o mercado é cruel: as pessoas pisam na cabeça do vizinho e seguem em frente, disse.

    Para Delfim, o capitalismo e as urnas são os dois grandes responsáveis pelo desenvolvimento no mundo. O Estado calibra os mercados, e a urna (os votos dos eleitores) calibra os governos.

    Delfim também elogiou a inclusão financeira promovida nos últimos anos pelo governo, e diz que a bancarização é um fenômeno que veio para ficar. E lembrou que ainda há muita gente sem conta corrente, sem meios de pagamento eletrônico, sem seguros no Brasil. Para ele, a inclusão foi resultado de aumento da oferta e da demanda, conjugado com a ação de reguladores.

    “O varejo sofre com a concorrência dos bancos, que cobram spreads menores porque trabalham com volumes maiores. Mas a concorrência vai prevalecer e as taxas vão convergir em algum ponto. Por isso o varejo tem que melhorar sua eficiência em dar crédito, precisa reduzir a inadimplência”.

    Para ele, não há como crescer sem ampliar o crédito. “O consumo é a força maior do crescimento de um país. O crescimento depende de duas variáveis: renda real das famílias e crédito bancário. Falar de bolha no Brasil é um equívoco. Mas como diria Ernane Galveas, crédito é bom mas demais faz mal”.

    No final, seu conselho para os brasileiros foi: trabalhem. “Pode não ser muito agradável, mas é fato. Não há como crescer sem produtividade.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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