Bancos centrais voltam a usar câmbio como ferramenta política

    Por Simon Kennedy | Bloomberg

    Quando o Hotel Plaza começou a vender sua própria versão do “Monopoly”, o jogo de tabuleiro não tinha uma casa para marcar o acordo monetário feito em 1985 que leva o nome do histórico prédio de Nova York.

     

    O “Plaza-opoly”, lançado neste ano, reconhece o papel do hotel como locação dos filmes “Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York” e “Intriga Internacional”, mas ainda não há reconhecimento do histórico pacto fechado lá pelas maiores economias do mundo para desvalorizar o dólar.

     

    Mencioná-lo teria sido um lembrete oportuno de que a utilização das taxas de câmbio como uma ferramenta política está voltando à moda pela primeira vez desde aquela época. A diferença é que agora os banqueiros centrais estão tentando impulsionar a inflação ao invés de controlar a alta dos preços.

     

    “Assim como as moedas atreladas entraram “na moda” como forma de reduzir a inflação no passado, vale a pena se perguntar se elas poderiam entrar na moda como forma de aumentar a inflação”, disse David Lubin, diretor de economia de mercados emergentes do Citigroup, em relatório deste mês.

     

    Recentemente, em julho, o presidente do Banco CENTRAL da Nova Zelândia, Graeme Wheeler, levantou a possibilidade de uma intervenção cambial. O presidente do BC da Austrália, Glenn Stevens, considera que a prática é parte de sua “caixa de ferramentas”. Analistas da Samsung Futures já desconfiam que as autoridades monetárias da Coreia do Sul estejam tentando refrear a apreciação do won.

     

    Alguns bancos centrais já atuaram. Há três anos, o Banco Nacional da Suíça impôs um limite ao franco no intuito de evitar a deflação. Em uma pesquisa realizada neste mês pela “Bloomberg News”, com 23 economistas, três quartos dos participantes disseram que o limite continuará existindo durante pelo menos mais dois anos.

     

    Depois, o Banco Nacional da República Tcheca colocou um teto na coroa tcheca e, neste mês, prometeu conservar esse limite até 2016 porque os riscos de desaceleração da inflação são maiores do que a recuperação da recessão mais duradoura da história do país.

     

    Israel, lar da moeda que Lubin considera ter tido o melhor desempenho nos últimos 18 meses com base ponderada, poderia ser o próximo em atuar.

     

    “Agora que a taxa definida pelas políticas israelenses é de apenas 0,5% aumenta a probabilidade de que qualquer ameaça deflacionária precise ser enfrentada com outros meios além dessa taxa, e o shequel parece ser o candidato mais indicado”, disse Lubin.

     

    Outros países que enfrentam a fortaleza das suas moedas e uma inflação baixa são a Coreia do Sul, a Polônia e a Hungria. Nenhum deles tem taxas de juros quase zeradas, o que lhes dá tempo antes de ter que agir sobre as moedas, disse Lubin.

     

    Não são apenas os países em desenvolvimento. Há quatro anos, o Brasil acusou os EUA de iniciarem uma “guerra cambial” para desvalorizar o dólar americano e promover suas exportações.

     

    Se o Banco CENTRAL Europeu (BCE) iniciar a flexibilização quantitativa e o euro despencar, os bancos centrais da Suécia e da Noruega poderiam até colocar limites máximos caso considerem a fortaleza da moeda como a maior ameaça à estabilidade dos preços, disse Geoffrey Yu, estrategista de moedas estrangeiras da UBS em Londres.

     

    As taxas de câmbio mínimas “provavelmente não se tornarão uma tendência irresistível imediatamente, mas na verdade acreditamos que o debate” sobre elas “não vai desaparecer”, afirmou Lubin.

     

    Fonte: Valor Econômico

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