Bancos devem ter alta de 13% no lucro no 2º tri

    Por Talita Moreira e Silvia Rosa | De São Paulo

    A temporada de balanços dos grandes bancos brasileiros para o segundo trimestre começa na próxima semana com a promessa de continuidade na melhora dos resultados. Porém, a combinação de crédito ainda fraco, mudanças na regulamentação dos cartões e queda dos spreads – diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas dos clientes – deve colocar as margens financeiras sob pressão.

    O lucro líquido combinado de Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander para os meses de abril a junho deve alcançar R$ 15,096 bilhões, de acordo com a média das projeções de sete casas de análise. Isso representa um crescimento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado – quando as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) castigaram os números. Porém, o resultado deve vir sobretudo do controle de custos e das receitas com tarifas e prestação de serviços. A expectativa é que a margem financeira dessas instituições cresça um pouco, mas também traga alguns sinais de alerta para os próximos meses.

    “No Brasil, nos preocupa que a fraqueza na primeira linha [dos balanços, ou seja, a margem financeira] possa começar a apontar para um crescimento comprometido dos lucros em 2018, na medida em que as margens financeiras líquidas são comprimidas e as carteiras de crédito não crescem”, afirmam, em relatório, analistas do J.P. Morgan.

    A expectativa é que a retomada do crédito continue lenta e as carteiras venham com um pequeno crescimento em relação ao fim do primeiro trimestre. O HSBC, por exemplo, prevê uma variação perto de zero no estoque de crédito, enquanto o UBS projeta uma expansão de 1,5% da carteira somada dos quatro grandes bancos no trimestre – porém, ainda deve haver uma contração de 2,7% em 12 meses.

    Essa variação modesta do crédito no trimestre, de acordo com os bancos, não será suficiente para compensar a queda do spread resultante dos cortes na taxa Selic e das novas regras do Banco Central (BC) para os cartões. Desde abril, os bancos não podem deixar mais os clientes por mais de 30 dias no Crédito rotativo. Após esse período, eles são obrigados a oferecer o parcelamento do saldo da fatura em condições mais vantajosas. A medida, que entrou em vigor no dia 3 de abril, já será plenamente sentida nos balanços do segundo trimestre.

    Conforme ressaltaram analistas do J.P. Morgan, o impacto dessa mudança já deve aparecer plenamente na margem financeira líquida. O banco lembrou que o Bradesco prevê sofrer um impacto de R$ 500 milhões com a medida, distribuído entre o segundo e o terceiro trimestres.

    Os analistas do UBS projetam uma redução média de 0,10 ponto percentual da margem financeira dos bancos nos balanços de abril a junho por causa das novas regras dos cartões.

    Fantasma dos últimos trimestres, a inadimplência já não deve assustar tanto, mas ainda pode trazer algumas surpresas negativas, sobretudo no segmento de grande empresas.

    Novos casos de companhias com problemas financeiros surgiram no segundo trimestre. O mais emblemático é o da JBS, que precisou refinanciar R$ 17 bilhões em dívidas com bancos depois do acordo de delação premiada da família controladora. Outro é o da empreiteira UTC, que recentemente entrou com pedido de recuperação judicial. Embora os bancos já tenham aumentado a provisão para perdas, a inadimplência na carteira de grandes empresas deve continuar alta, segundo analistas.

    Para o HSBC, a deterioração da qualidade dos ativos nos grandes bancos atingiu o pico no primeiro trimestre, com exceção do Banco do Brasil, e deve permanecer estável ou mostrar ligeira melhora, aliviando a necessidade de um aumento das provisões.

    A expectativa do UBS é que as despesas com PDD recuem, na média, 15,8% para os quatro grandes bancos na comparação com o segundo trimestre do ano passado, mas cresça 2,6% ante o primeiro trimestre.

    O Bradesco, que inaugura a safra de balanços na próxima quinta-feira é quem deve apresentar o menor crescimento do lucro, de acordo com a média das projeções compiladas pelo Valor. A estimativa média é que o resultado fique em R$ 4,430 bilhões, com alta de 6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

    Segundo os analistas do Santander, o Bradesco “ainda está em fases mais atrasadas do ciclo de crédito em comparação aos pares”, com pequena melhora da qualidade dos ativos, que não deve ser suficiente para compensar a fraca geração de receitas.

    A maior elevação no lucro – de 45%, em média – é esperada para o Banco do Brasil, que vem adotando uma série de medidas para se aproximar da rentabilidade dos concorrentes privados. Entre elas, está a reprecificação das operações de crédito após a política de Juros baixos adotada sob o governo Dilma. As projeções indicam um ganho de R$ 2,614 bilhões para a instituição no segundo trimestre deste ano, ante R$ 1,801 bilhão no mesmo período do ano passado.

    O BB também deve liderar a melhora da taxa de retorno sobre o capital (ROE), que deve passar de 11,82% para 13,4%, segundo estimativa do UBS. No entanto, o banco deve apresentar um nível de calotes ainda elevado, o que pode se refletir em um aumento das provisões para perdas com devedores duvidosos – compensado pelo forte controle de custos e pelo efeito contábil do pagamento de Juros sobre capital próprio. “Esperamos que a taxa de inadimplência do BB atinja o pico neste trimestre, devendo permanecer estável no resto do ano”, aponta o HSBC.

    Um aspecto que pode contribuir para isso é que aparentemente o Banco do Brasil ainda não concluiu a renegociação de um crédito no setor de telecomunicações – provavelmente, com a Oi, em recuperação judicial. “Portanto, isso vai continuar a ter impacto no índice de inadimplência e pode introduzir incerteza adicional sobre as provisões do banco”, dizem, em relatório, os analistas do Itaú BBA.

    Embora espere uma redução das despesas com PDD, o J.P. Morgan alerta para o risco de o Banco do Brasil adotar uma abordagem cautelosa em relação às provisões para sua carteira do agronegócio, embora espere uma redução das provisões. O banco americano calcula em R$ 15 bilhões a exposição do Banco do Brasil ao setor de proteínas.

    O crescimento das operações de crédito, na contramão do mercado, deve ajudar o Santander Brasil a compensar a redução dos spreads. Esse fator, somado à expansão das receitas com serviços e à manutenção dos custos sob controle, deve levar o banco a um lucro líquido de R$ 2,051 bilhões, 14% superior ao do segundo trimestre do ano passado.

    No Itaú Unibanco, a queda nas despesas com PDD devem contribuir para elevar o lucro em 8%, chegando a R$ 6 bilhões na média das projeções. “Se nossas expectativas para este trimestre se concretizarem, o Itaú enfrentará menos ventos desfavoráveis do que seus pares, ajudando-o a atingir nossas estimativas para o ano”, apontam os analistas do Santander em relatório.

    Capital de instituições públicas melhora

    Por Silvia Rosa | De São Paulo

    Em um momento em que a capacidade do governo de injetar recursos nos bancos públicos é limitada, a Fitch Ratings avalia que a necessidade de capitalização dessas instituições diminuiu, embora não descarte um eventual aporte na Caixa Econômica Federal.

    Segundo os analistas Esin Celasun e Claudio Gallina, o Banco do Brasil tem mais capacidade de atingir os requerimentos mínimos de capital, considerando a implementação total das regras de Basileia 3 até 2019, sem precisar vender ativos, como participação acionária.

    No estudo, a Fitch reconhece que a necessidade de capital da Caixa melhorou neste ano, em relação à situação de 2016, mas adverte que o banco estatal tem margem limitada para fazer ajustes. “A Caixa tem uma base de capital menor e rentabilidade mais baixa que a do BB. Além disso, é mais difícil para o banco ajustar sua carteira de crédito, que tem participação relevante em financiamento imobiliário”, diz Esin.

    O índice de Basileia da Caixa estava em 13,6% no primeiro trimestre, enquanto o do BB era de 18,15%. Já o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tinha índice em 21,70% em 2016. O índice de capital mínimo requerido, com a implementação total da Basileia 3 em 2019, será de 8%, devendo atingir 11,5%, com os requerimentos de adicional de conservação e sistêmico.

    Os bancos públicos, segundo a Fitch, têm adotado uma postura mais conservadora na concessão de crédito e buscado reduzir os custos, focando em produtos mais rentáveis que gerem receita com tarifas. “Temos visto preocupação maior com o capital”, diz Gallina.

    O analista lembra que a Caixa abriu novo Programa de Demissão Voluntária (PDV), com o objetivo de cortar 5,5 mil vagas. O BB também reduziu o quadro de funcionário no fim de 2016 e fechou 563 agências no primeiro trimestre.

    Já em relação ao BNDES, Gallina acredita que a expansão da carteira do banco não deve contar com novos aportes do Tesouro. “O banco deve atuar mais em parceria com os bancos privados e usar outras estruturas, com garantias, de maneira mais intensa”, afirma.

    Depois da inadimplência atingir níveis elevados em 2015 e 2016 nos bancos públicos, os analistas da Fitch esperam que o índice continue em níveis mais elevados que a média histórica, assim como as despesas com provisão para perdas com devedores duvidosos (PDD). “Talvez os bancos públicos precisem de mais provisão. Mas não é algo que vai trazer prejuízo grande”, afirma Gallina.

    Entre os riscos para essas instituições, a Fitch destaca a possibilidade de rebaixamento da nota de crédito soberana do Brasil, que teria impacto direto para os bancos públicos, e a persistência de um ambiente operacional ruim.

    Fonte: Valor Econômico

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