PARA ANALISTAS, TAXA DE JUROS DEVE CHEGAR AOS DOIS DÍGITOS AINDA NESTE ANO
Consultorias preveem mais aumentos em 2014; leitura é a de que ata mostra preocupação com recuperar a confiança
MARIANA SCHREIBER
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
O Banco Central avalia que, mesmo depois de elevar os juros de 7,25% para 9,5%, a inflação brasileira ainda mostra resistência e será necessário continuar ajustando a política monetária para inverter esse processo.
O recado consta da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e sinaliza que o BC pode aumentar a taxa Selic em mais 0,50 ponto percentual em novembro, fechando o ano com juros de 10%.
Para analistas do mercado, o documento indica que o processo de alta deve ser mais duradouro. Entra em 2014, ano da campanha eleitoral, com a taxa de juros podendo atingir entre 10,25% e 11%.
No governo, chamou a atenção o termo “ainda” no trecho que diz: a “elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência”.
Também mereceram destaque os termos “danos que a persistência desse processo” pode causar na confiança de consumidores e investidores, assim como “faz necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo [processo] seja revertido”.
Na ata, o BC manteve ainda sua avaliação de que a recuperação da atividade doméstica, o mercado de trabalho apertado e a alta do dólar pressionam a inflação.
A interpretação da ata é que o BC considera que houve avanços no combate à inflação, mas avalia que o “jogo ainda não está ganho” e que “ainda tem coisa a ser feita” visando o próximo ano.
Inicialmente, o mercado acreditava que o atual ciclo de elevação de juros seria interrompido antes do patamar de dois dígitos, devido ao desejo da presidente Dilma Rousseff de manter a Selic abaixo de 10%.
Na avaliação de Tony Volpon, economista da corretora japonesa Nomura, a percepção do mercado de que o BC estava sob pressão política para não elevar a Selic a um patamar de dois dígitos provocou o aumento das projeções para a inflação.
Agora, observa, o BC precisa reduzir essas expectativas, pois a percepção de que a inflação continuará elevada alimenta a alta de preços.
No entanto, devido à persistência da inflação em patamar elevado e bem acima do centro da meta de 4,5%, na avaliação dos analistas, o governo cedeu e o BC deve romper esse limite.
A Nomura e o banco Itaú esperam que a Selic suba para 10,25%. A corretora Gradual e a consultoria Rosenberg Associados, por sua vez, projetam juros de 11%.
FISCAL
Uma das poucas alterações na ata se deu no trecho que trata dos gastos do governo.
Num recado para o Ministério da Fazenda, a ata destaca que a realização de superavits primários (economia para pagamento de juros da dívida) dentro do esperado pelo BC contribuiria para controlar a inflação e aumentar a confiança no ambiente macroeconômico.
“Esse trecho indica que o BC está menos confiante de que a política fiscal se tornará neutra [sem impacto na inflação]”, disse Thais Zara, economista da Rosenberg. Na ata de agosto, o BC dizia que a política fiscal caminhava para a neutralidade.
Fonte: Folha de S.Paulo