Vida dos bancos centrais piorou

    Por José Roberto Campos | De São Paulo

    A vida dos presidentes de bancos centrais nunca foi fácil, mas piorou bastante. Primeiro, foi o regime de metas de inflação que se revelou claramente insuficiente para garantir a estabilidade financeira, como a crise de 2008 revelou. Depois, a própria crise obrigou os BCs a tomarem atitudes inéditas, raramente referendadas pelos livros-texto e, o que não era esperado, se envolverem em seara alheia.

    O diagnóstico, do principal economista do BIS, o BC dos bancos centrais, Stephen Cecchetti, dá um resumo curioso do imbróglio e dos desafios das autoridades monetárias, que não mais conseguem se isolar de outras esferas da administração econômica e política dos governos em uma torre de marfim:

    *a política monetária influencia a política fiscal por meio do balanço dos BCs;

    *a política fiscal influencia as políticas monetárias e de regulação por meio de suas escolhas de financiamento;

    *a política de regulação influencia a política fiscal por meio do tratamento que é dado à divida soberana;

    *a política de regulação influencia de novo a política monetária ao alterar os custos dos empréstimos.

    É certo que um presidente do BC como Alexandre Tombini não terá de enfrentar esse xadrez regulatório, como estão enfrentando os dirigentes de bancos centrais europeus e americano. Mas, como diz Cecchetti, “a questão das interconexões entre políticas” antes alocadas de forma estanque entre várias esferas de poder retornou com força total e obriga a uma adaptação do modelo consensual da independência pura e simples.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorBC aumenta o tom sobre a resistência da inflação
    Matéria seguinteParecer regulamenta greve de servidores