Autoridade monetária aumenta a injeção de recursos no mercado para evitar que a divisa passe dos R$ 2,30 e faça a inflação disparar…
Nos últimos meses, o BC vinha rolando apenas 70% dos contratos de compra e venda de moeda estrangeira (swap) com vencimento na semanas seguintes, mas, na última sexta-feira, avisou que passaria a renovar 100% das operações. Na prática, isso significa que haverá mais dólares na praça, o que terá impacto imediato no mercado à vista. Não por acaso, a moeda norte-americana fechou ontem em queda de 0,54%, cotada a R$ 2,274 para a venda.
O BC vem mantendo o dólar em rédea curta desde agosto do ano passado. Desde então, já foram injetados US$ 96,7 bilhões por meio de operações no mercado futuro. O dólar está sob pressão de alta em todo o mundo, devido às crises na Ucrânia e no Oriente Médio e à expectativa de que está cada vez mais próximo o momento em que o Federal Reserve, o Banco CENTRAL dos Estados Unidos, começará a subir as taxas de juros – medida que carregaria para o mercado norte-americano boa parte dos recursos aplicados em nações em desenvolvimento.
No plano interno, a alta é estimulada ainda pela incerteza sobre os rumos da economia depois das eleições presidenciais de outubro. Não existe uma ameaça de ruptura total dos fundamentos econômicos, uma vez que os principais candidatos já declararam que pretendem manter o chamado tripé de política econômica – meta de inflação, superavit nas contas públicas e câmbio flutuante. “Entretanto, há uma percepção ainda embaralhada de como eles farão isso, e essa insegurança é que causa uma alta do dólar”, disse um gestor de fundos de um Banco de investimentos estrangeiro.
Teto informal
“Há muitos investidores, sobretudo estrangeiros, buscando se proteger. O efeito disso é a alta do dólar, porque eles estão vendendo ativos no país e aumentando posições em moeda estrangeira. Tudo isso tem a ver com a eleição presidencial”, assinalou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
O BC teme o impacto de uma disparada da moeda norte-americana na inflação, que já está alta. Em 12 meses até julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 6,5%, ficando exatamente no teto da meta perseguida pelo governo. “O dólar mais comportado vinha ajudando a segurar o custo de vida, mas, se saltar acima de R$ 2,40, como prevê o mercado, essa tarefa ficará bem mais difícil”, disse o economista-chefe da INVX Global Capital Asset, Eduardo Velho.
Exatamente por isso, emendou André Perfeito, tão logo a moeda encostou em R$ 2,30, o BC se apressou em sinalizar que derrubaria a cotação. “Essa ação dá a entender que os R$ 2,30 são uma espécie de teto informal para o governo”, comentou.
Seguro cambial
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Intervenções
Batizado de “ração diária”, o programa do BC prevê injeções diárias de dólares para evitar que falte moeda no mercado de câmbio.
O que já é feito
De segunda a sexta-feira, o BC vende até US$ 200 milhões, diariamente, por meio de leilões de swaps (venda de dólares a uma data futura).
Como funciona
Ao vender dólares no mercado futuro, o BC sinaliza um patamar de referência para a moeda norte-americana numa data posterior, o que tende a acomodar as cotações hoje.
O que há de novo
Além das intervenções diárias sobre o câmbio, o BC também faz operações voltadas para datas específicas, sempre que a procura por dólares é maior do que a oferta. Até o mês passado, o BC vinha rolando apenas 80% dos contratos nesses leilões. Ontem, avisou que aumentaria a rolagem para 100%.
O que o BC quer
Evitar que a trajetória do dólar, que vinha sendo de alta, torne-se constante. Ao sinalizar ao mercado que vai aumentar as intervenções, a autoridade monetária deixa claro que vai evitar qualquer alta brusca da moeda norte-americana.
Para que serve
O BC receia que uma escalada do dólar pressione a inflação, já que parte dos produtos consumidos pelas famílias é trazida do exterior, e muita matérias-primas e componentes de mercadorias fabricadas aqui são importados.
Caso o dólar dispare, a inflação, que, em 12 meses, já superou o teto da meta, de 6,5%, poderia avançar ainda mais, a dois meses das eleições presidenciais.
Fonte: especialistas do mercado financeiro
Fonte: Correio Braziliense