BC ganha com ‘upgrade’ de Tombini no Planalto

    Por Angela Bittencourt | De São Paulo

    O ajuste de expectativas na condução da política monetária, especialmente quanto à evolução da Selic no curto prazo, despertou a atenção de privilegiados observadores do sistema bancário brasileiro, que chegaram a interpretar revisões para a taxa – rumo aos dois dígitos – como gesto de apoio de instituições financeiras ao Banco Central de Alexandre Tombini.

    Desde que o presidente do BC integrou a comitiva de Dilma Rousseff em visita oficial aos EUA há poucas semanas, cresce a percepção no mercado de que ele conquistou a confiança da presidente.

    Não passou despercebido o fato de, na viagem, o presidente do BC somar forças com os ministros Guido Mantega, Fernando Pimentel e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. E todos retornaram ao país sem qualquer arranhão e rezando a novena pelo mesmo terço.

    Posição de reconhecido prestígio junto a assessores tão próximos à Presidência tem bônus e ônus. Do lado do bônus estão, entre outras coisas, mais espaço para defender as políticas do BC e participar mais ativamente da definição de outras políticas de governo, inclusive, para garantir harmonia no resultado. E, de preferência, também no discurso. Representa um ônus, sem dúvida, o risco de o mercado financeiro — incluindo grandes investidores domésticos e estrangeiros – acreditar, especialmente em momentos de estresse, que o BC não tem autonomia operacional, estando realmente subordinado ao Palácio do Planalto.

    Em tempo: os bancos raramente manifestam intenção de largar o BC à própria sorte. Os mercados caminham lado a lado com as autoridades monetárias numa relação de mútua dependência que às vezes causa estranheza no governo. Mas isso não é assim apenas no Brasil. E sempre caberá ao BC calcular riscos e proteger as políticas em curso de avaliações equivocadas. O BC não deve é esperar, dos demais integrantes do governo, uma iniciativa generosa de isolar as políticas monetária e cambial de questionamentos do mercado financeiro. Esta “praia” é do BC. Não adianta perguntar se dá pé.

     

    Fonte: Valor Econômico

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