A ata do Copom, divulgada ontem, prevê que os preços administrados subirão 4,5% em 2014, variação superior à de 3,8% dos economistas consultados para o Boletim Focus. A tarifa de ônibus gera incerteza nas projeções
Fernanda Nunes
O Banco Central está mais pessimista que o mercado sobre a capacidade do governo de reter os preços administrados em 2014 e utilizá-los como política de controle da inflação. A ata da última reunião do Comitê Política Monetária (Copom), realizada na terça e quarta-feira da semana passada, informa uma projeção da autoridade monetária para os administrados de 4,5% no próximo ano, superior aos 3,8% previstos pelos economistas consultados para o Boletim Focus. A projeção do BC é maior também que a variação dos preços administrados no acumulado de 12 meses até outubro, de 1,02%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IP-CA). O mercado prevê alta de 1,2% no fechamento do ano.
Ainda que a inflação dos controlados avance mais neste ano do que no próximo, como projeta o BC, a perspectiva é que as tarifas desse grupo de bens e serviços subam menos do que a média dos itens pesquisados, já que a previsão é que o IPCA feche próximo de 6%, segundo estimativa do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
A lacuna entre a previsão do Copom e a de analistas para os preços administrados está no reajuste da tarifa de ônibus urbano. A incerteza é, sobretudo, se a prefeitura de São Paulo concederá o reajuste às concessionárias e se o Tesouro Nacional está disposto a subsidiar a redução ou manutenção das passagens. No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes anunciou ontem um aumento.
“Talvez, o relatório de inflação explicite como o Banco Central chegou a 4,5%. O BC é mais pessimista, principalmente, no que diz respeito a como os governos estaduais e municipais vão lidar com a questão da tarifa de transporte público. Embora 2014 seja ano eleitoral, época de segurar preços, já houve retenção de reajuste em 2013. Fica a incerteza para todos”, diz Fernando Sampaio, economista da consultoria LCA.
O economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, afirma que qualquer novo reajuste dos preços dos combustíveis ou mesmo do transporte urbano é suficiente para elevar a inflação dos administrados no ano que vem, o que, em sua opinião, explica a taxa estimada pelo Banco Central.
Para este ano, a perspectiva da autoridade monetária é de uma contribuição expressiva do setor de energia elétrica para conter a inflação, com recuo dos preços para os consumidores residenciais de 16%. Até outubro, o segmento acumula retração de 15,08%, em 12 meses, pelo IPCA.
Sobre a inflação da energia elétrica neste ano, a explicação do BC, na ata, é que sua “estimativa leva em conta os impactos diretos das reduções de encargos setoriais anunciadas, bem como reajustes e revisões tarifárias ordinários programados para este ano”.
Também a telefonia fixa ajudará a equipe econômica a conter a inflação dos administrados, com queda no ano de 1%, segundo o Copom. Até outubro, o segmento apresenta variação negativa de 0,95%. A c ompetição entre as concessionárias e também com a telefonia móvel permitirá a continuidade do processo de queda dos preços da telefonia fixa no ano que vem, afirma o presidente da consultoria Teleco, Fernando Tude.
Já a aposta do Copom para a gasolina foi de reajuste de 5% no ano. A reunião ocorreu antes do anúncio de revisão do preço do combustível pela Petrobras de 4%.
O Banco Central prevê ainda aumento de 2,5% do botijão de gás neste ano. Até outubro, o IP-CA em 12 meses do produto é de 7,24%.
Fonte: Brasil Econômico