BC mantém cautela, mas aperto está próximo

    Por Roberta Costa | De São Paulo

    O Federal Reserve (Fed) optou por manter aplacado o ânimo do mercado ao seguir com o tom “dovish” (inclinado à acomodação monetária) em seu comunicado e por meio da fala de sua presidente, Janet Yellen.

     

    Não houve mudança na orientação de que os juros ficarão baixos por “tempo considerável” e, assim, foi tirado do horizonte de curtíssimo prazo a possibilidade de aperto das condições financeiras, já que uma mudança acarretaria, inevitavelmente, alta de juros longos, queda de ações e elevação ainda mais pronunciada do dólar.

     

    Nada disso interessa agora. A economia está em recuperação e o risco de reavivar o tumulto do ano passado, resultado da indicação do “tapering” (redução do programa de compra de ativos) era real e desnecessário nesse momento.

     

    Dessa forma, o Fed mantém o tom cauteloso e deve agir sem pressa. Cautela, neste caso, significa boa notícia para os ativos, mas isso tem data para acabar.

     

    As projeções atualizadas mostraram que o PIB real deve crescer um pouco menos do que o esperado anteriormente entre 2014 e 2016, o que deixa clara a razão pela qual o comitê está priorizando suas preocupações com a recuperação econômica.

     

    Isso fica ainda mais evidente pela pouca mudança nas perspectivas para a taxa de desemprego. Mesmo em 2017, ano que foi incluído agora na divulgação dos dados, a economia crescerá abaixo de 3% (2,9%) e a inflação (medida pelo PCE, índice preferido do Fed) encostará na meta de 2% bem lentamente até 2017.

     

    Mas o alvo das atenções eram as expectativas individuais de juros dos membros do Fomc, que indicaram uma velocidade maior no ciclo de alta. A faixa em que a Fed Fund Rate ficará em 2015 é de 1,25% e 1,50%, de 0% a 0,25% atualmente, acima da projeção de junho (entre 1,0% e 1,25%). Para o final de 2016, os juros estariam entre 2,75% e 3,0% e apenas após 2017 convergiriam para 3,75% – a taxa de longo prazo.

     

    Em uma conta simples, considerando as oito reuniões por ano do Fed, e que as altas sejam de 25 pontos-base por reunião, a primeira elevação se daria, em tese, em junho de 2015.

     

    Em 2016, para que a taxa chegue em 3,0%, seis outras altas da mesma magnitude seriam feitas.

     

    Janet Yellen parece buscar o consenso entre os membros do comitê, antes de partir de volta para o “mundo normal” da política monetária. Nesta reunião, houve dois votos dissidentes, de Richard Fisher e Charles Plosser.

     

    Ainda há que se administrar a redução do balanço do Banco CENTRAL, que soma US$ 4,4 trilhões, ou 26% do PIB – um avanço monumental em relação ao nível de 7% do PIB antes da crise.

     

    O Fed estabeleceu que a Fed Fund Rate continua sendo sua principal taxa referência de manejo da política monetária, mas usará dois outros complementares: a IOER (taxa de juros sobre reservas bancárias excessivas dos bancos) e a RRP (“reverse repo”).

     

    Desde setembro de 2013, o BC americano vem realizando estudos para sua “estratégia de saída” com essas ferramentas e publicando regularmente resultados.

     

    Segundo a instituição, quando as condições econômicas permitirem, o comitê irá aumentar o intervalo alvo para a taxa de juros e usará a RRP (acordos de recompra) “conforme necessário para ajudar a controlar a taxa de juros” e “apenas na medida do necessário”.

     

    O Fed pretende reduzir suas detenções de títulos “de forma gradual e previsível”, principalmente deixando de reinvestir os pagamentos do principal quando os juros começarem a subir, mas tudo dependerá de “como as condições financeiras e econômicas evoluirão”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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