BC subtrai “inflação resistente” de texto

    Por Alex Ribeiro e Diogo Martins | Do Rio

    Hamilton não muda indicação de política monetária quando perguntado sobre Selic

    Banco CENTRAL (BC) eliminou a menção à “inflação resistente” na apresentação de seu Boletim Regional ontem, passando a destacar a evolução mais benigna dos índices de preços em meses recentes.

    Também deixou claro que “não seriam uma preocupação adicional” os efeitos inflacionários de uma eventual nova rodada de depreciação da taxa de câmbio.

    Em apresentação no Rio, o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton Araújo, destacou que a inflação mensal vem mostrando tendência declinante desde março.

    “A inflação estava em 0,92% em março. Os analistas antecipam uma inflação de 0,15% ou menos para julho, um sexto do observado em março”, observou Hamilton.

    Na divulgação do Boletim Regional anterior, em maio, no Recife, o diretor havia chamado a atenção, num slide, para “a inflação ao consumidor elevada e ainda mostrando resistência ligeiramente acima daquela que se antecipava”. A apresentação de ontem, com um slide quase idêntico, elimina essa frase.

    A expressão “inflação resistente” tem sido um dos motes do BC desde que iniciou um ciclo de aperto monetário, em abril de 2013, e foi uma das justificativas para aumento maior do que o esperado da Selic em janeiro. Também faz parte das razões apresentadas pelo BC para manter os juros em 11% ao ano desde abril.

    Questionado, por duas vezes, se a autoridade monetária havia mudado a sua visão sobre a “inflação resistente”, Hamilton procurou destacar a melhora da inflação mensal nos últimos meses. Além do recuo do IPCA, o índice oficial do regime de metas, ele chamou a atenção para as deflações nos preços de atacado.

    “Temos tido uma acomodação importante nos preços do atacado. Boa parte se transmitiu para os índices de inflação ao consumidor, portanto não surpreende a inflação bem baixa em julho”, disse.

    “Ainda deve ter parte dessa acomodação dos preços no atacado se transmitindo para a inflação ao consumidor agora em agosto e, a depender da continuidade desse processo, nos meses seguintes.”

    Na terça-feira, em depoimento no Senado, o presidente do BC, ALEXANDRE TOMBINI, também havia destacado os progressos dos indicadores de inflação recentes. O foco dele foi o recuo, por três meses seguidos, dos índices gerais de preços (IGPs), algo visto apenas quatro vezes nos últimos 20 anos.

    No seu discurso na CAE, TOMBINI repetiu praticamente todo um trecho da ata da última reunião do Comitê de política monetária(Copom), mas tomou o cuidado de não mencionar o trecho que dizia que a inflação vai se manter resistente nos próximos trimestres.

    Ontem, Hamilton minimizou os possíveis impactos que um eventual alta do dólar poderá ter sobre a inflação. Ele lembrou que as projeções contidas no Relatório de Inflação de junho no chamado cenário do mercado, que traz a evolução da taxa de câmbio prevista pelos analistas, já está contemplada uma certa desvalorização do real, mas mesmo assim a inflação segue tendência de convergência para a meta.

    O cenário de mercado do relatório usa uma taxa de câmbio média de R$ 2,39 no último trimestre de 2014 e de R$ 2,48 no último trimestre de 2015. Nesse cenário, a inflação fecharia em 6,4% em 2014, em 6% em 2015 e em 5% nos 12 meses encerrados em junho de 2016. Esse quadro também contempla – dado não mencionado pelo diretor – uma meta para a Selic de 12% em fins de 2015 e meados de 2016.

    “Depreciações cambiais certamente têm impacto na inflação. Esse é um processo que vem ocorrendo há algum tempo”, disse Hamilton. Ele destacou que esse é um dos processos de ajuste de preços relativo em curso, ao lado do realinhamento dos administrados ante o de preços livres. “Se esse processo vai ter continuidade ao longo do tempo, é provável que sim. Mas não seria motivo para nenhuma preocupação adicional.”

    Uma eventual disparada do dólar, em meio ao processo de normalização das condições monetárias nos Estados Unidos, tem sido citada por analistas como um fator que poderia obrigar o BC brasileiro a subir a taxa básica de juros. Hamilton disse que o BC trabalha com perspectivas de “normalização” nas condições monetárias dos Estados Unidos.

    Apesar de dar sinais de que a inflação se comporta bem, Hamilton não mudou a indicação de política monetária, quando perguntado quanto tempo o BC acredita ser necessário deixar a Selic em 11%.

    Depois de ler o parágrafo 31 da ata do Copom que trata da manutenção das condições monetárias, ele foi enfático: “Está claro o que não está contemplado: redução no instrumento de política monetária“. Sobre decisões futuras, ele se limitou a dizer que o BC aumentou os juros em 3,75 pontos percentuais “e se esse ajuste é satisfatório ou suficiente para combater as pressões inflacionárias, é uma avaliação que o Copom vai fazer ao longo do tempo”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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