Dólar atinge maior patamar desde março

    Por Silvia Rosa, José de Castro, Antonio Perez e Lucinda Pinto | De São Paulo

    O aumento da tensão geopolítica entre Ucrânia e Rússia e a queda maior que a esperada dos pedidos de auxílio desemprego nos Estados Unidos sustentaram a alta do dólar e dos juros futuros ontem, em um cenário de maior aversão a risco.

    A moeda americana fechou com valorização de 0,90%, a R$ 2,2939, no maior patamar desde 26 de março. O dólar ampliou a valorização no período da tarde após a notícia de que um avião militar ucraniano foi abatido por militantes na região de Donetsk, na Ucrânia.

    A notícia contribuiu para aumentar a aversão a risco e ampliar a demanda por ativos considerados como porto seguro, a exemplo do dólar e de títulos do Tesouro americano.

    A alta do dólar ontem ainda foi suportada pela queda maior que a esperada dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que reforçou a perspectiva de a economia americana estar se recuperando, abrindo espaço para o Federal Reserve (Fed, Banco CENTRAL americano) iniciar a discussão sobre a normalização da política monetária nos EUA.

    “Houve uma mudança de tendência do dólar desde a divulgação do PIB americano do segundo trimestre dos EUA, que mostrou que a contração nos primeiros três primeiros meses do ano foi causada por fatores climáticos, e do aumento das tensões geopolíticas na Ucrânia e na Faixa de Gaza”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho Brasil.

    A situação nos Estados Unidos contrasta com o cenário na Europa, onde a crise na Ucrânia aumenta a preocupação com a recuperação da economia na zona do euro.

    Ontem, o presidente do Banco CENTRAL Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que a taxa de juros deve permanecer no atual nível por um longo período e reiterou que o Banco está comprometido em usar medidas não convencionais se as perspectivas piorarem.

    Ontem, o diretor de política econômica do Banco CENTRAL, Carlos Hamilton Araújo, destacou que podem ser vistas novas rodadas de tensão e de volatilidade nos mercados de moedas, mas que o câmbio não é uma preocupação adicional para o combate à inflação. Segundo Rostagno, do Mizuho, a visão do BC é que os preços das commodities no mercado externo têm caído, o que ajuda a compensar o impacto da alta do câmbio na inflação, sinalizando que ele não deve mudar a estratégia.

    Na BM&F, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) avançaram ontem, com a recomposição dos prêmios perdidos no pregão de quarta-feira. O DI com vencimento em janeiro de 2016 subiu de 11,42% para 11,46%, e o derivativo para janeiro de 2017, de 11,71% para 11,80%. “A volatilidade aumentou muito com as questões geopolíticas e a incerteza sobre o ritmo de normalização da política monetária americana”, afirma Ricardo Mendonça, cogestor de renda fixa da XP Gestão de Recursos.

    Em todo caso, o apetite pela renda fixa local continua forte, como mostrou o leilão de títulos públicos prefixados (LTN e NTN-F) realizado ontem pelo Tesouro Nacional. Foram vendidas 5,140 milhões de LTNs e 3,250 milhões de NTN-Fs, os papéis preferidos pelos estrangeiros.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorBC subtrai “inflação resistente” de texto
    Matéria seguinteNegociação com servidores avança