BC surpreende e eleva juros a 11,25%

    Se ainda restavam dúvidas sobre a severidade dos ajustes econômicos necessários em um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, elas não existem mais. Diante do risco de a inflação romper o teto da meta, de 6,5%, neste ano, o que não ocorre desde a era Lula, o governo decidiu radicalizar. Em decisão surpreendente, o Comitê de política monetária (Copom) anunciou a elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A surpresa só é comparável à de agosto de 2011, quando o Banco CENTRAL (BC) foi na contramão do que esperava o mercado financeiro e cortou os juros, mesmo com a inflação tendo estourado, na época, o limite de tolerância.

    Ao justificar a decisão, o BC divulgou o mais longo comunicado em três anos. “O Copom considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência, de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016”, diz um trecho da nota. A expectativa é de novos aumentos  em dezembro e em janeiro, possivelmente de 0,5 ponto cada.

    Segundo uma fonte do governo, o BC  foi autorizado a fazer “o que estiver a seu alcance” para evitar que os preços fujam de vez do controle. A ordem é colocar um freio na inflação que, nos 12 meses até setembro, cravou alta de 6,75%. Com a medida, disse a fonte, Dilma deixa claro que falava a sério quando reiterou, desde a reeleição no domingo, que a principal meta do novo governo será controlar o custo de vida. Mais do que isso. Após ter colocado em prática no primeiro mandato uma política considerada como falha, batizada de nova matriz econômica, a presidente sinalizou que fará uma guinada em direção à ortodoxia.

    As novas diretrizes, avalia o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, abrem brecha para a gritaria de movimentos sociais e até mesmo da oposição, que deverá acusar o governo de “estelionato eleitoral”. “O PT está colocando em prática as medidas impopulares que eles próprios disseram que não fariam e que atribuíram, durante a campanha, ao candidato derrotado Aécio Neves (PSDB)”, emendou.

     

    Racha

    É justamente o que pensam os sindicalistas da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). “As urnas mostraram que a política econômica precisa estar voltada para o crescimento econômico, gerando emprego e distribuição de renda”, disse o presidente da entidade, Carlos Cordeiro, em nota em que comenta a decisão do BC. “O Copom precisa ouvir mais a sociedade e menos o mercado”, criticou.

    A próxima medida impopular já autorizada pelo Planalto será o reajuste nas bombas da gasolina e do diesel. A decisão pesará diretamente no bolso de consumidores, mas ajudará a aliviar o caixa da Petrobras, que vem sofrendo com denúncias de corrupção e teve, uma semana antes das eleições, a nota de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Moody”s. A maior empresa do país está agora a um passo de perder o selo de grau de investimento, o que a faria cair para a classificação de investimento especulativo.

    A guinada na política econômica não foi, porém, unanimidade entre os diretores do Banco CENTRAL, considerados mais ortodoxos do que os técnicos do Ministério da Fazenda. A alta de juros foi decidida por um placar dividido, o que não ocorria desde abril de 2013. Cinco membros do Copom votaram pela elevação de 0,25 ponto e três, pela manutenção da Selic em 11% ao ano.

    Advogaram pelo aperto monetário o presidente do órgão, ALEXANDRE TOMBINI, dois dos três diretores mais ligados à área econômica – Carlos Hamilton Araújo (Política Econômica) e Aldo Luiz Mendes (política monetária) -, além de Anthero Meirelles (Fiscalização) e Sidnei Corrêa (Organização do Sistema Financeiro).

    Defenderam a manutenção dos juros em 11% os diretores de Assuntos Internacionais e Regulação, Luiz Awazu Pereira, de Administração, Altamir Lopes, e de Relacionamento Institucional, Edson Feltrim. Isso deixa claro o racha no Copom, conforme o Correio noticiou há três semanas. Também sinaliza que, no segundo mandato de Dilma, o BC deve continuar sob o comando de TOMBINI, que chegou a ser cotado para substituirGuido Mantega no Ministério da Fazenda.

     

    Fonte: Correio Braziliense

    Matéria anteriorDilma vai manter pelo menos doze ministros
    Matéria seguinteReforma política divide a oposição