Por Alex Ribeiro | De Brasília
A ata do Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL, divulgada ontem, renova a indicação de manutenção dos juros básicos nos atuais 11% ao ano por algum tempo, mas registra algumas melhoras importantes no cenário inflacionário. Desapareceu a referência à inflação resistente; as projeções oficiais mostram convergência do IPCA à meta em 2016; e a demanda doméstica já cresce em ritmo condizente com a oferta.
É um cenário bem mais confortável do que o descrito na ata anterior, de julho, mas não o suficiente para levar a uma baixa de juros proximamente. O Copom parece indicar apenas que desapareceram – ou pelo menos se reduziram bastante – os riscos que poderiam levá-lo a subir os juros acima de 11% ao ano.
A eliminação da referência à inflação resistente não chega a ser uma surpresa. Dirigentes do Banco CENTRAL já haviam retirado essa expressão de seus pronunciamentos oficiais. Numa sabatina no Senado em 5 de agosto, o presidente da instituição, ALEXANDRE TOMBINI, havia feito um discurso baseado em trechos inteiros e literais do relatório de inflação de junho, mas que eliminava cirurgicamente a referência à inflação “resistente”.
“Resistente”, é bom lembrar, é uma das palavras-chave na comunicação deste ciclo de aperto monetário. Ela apareceu pela primeira vez na ata do Copom de janeiro de 2013, indicando o desconforto com a dinâmica de preços e iniciando a escalada na comunicação que antecedeu o aperto na taxa básica de juros.
Inflação resistente, no jargão do Banco CENTRAL, basicamente significa que os agentes econômicos atribuem um peso maior à inflação passada na formação de preços do que ao cenário econômico futuro. Quando a inflação é resistente, ela costuma ceder menos às medidas depolítica monetária e à desaceleração da economia. Por isso, é muito provável que agora, quando o Banco CENTRAL constata que a inflação está menos resistente, suas projeções oficiais para a variação do IPCA tenham recuado.
De fato, isso ocorreu, diz a ata. No seu parágrafo 19, está escrito que “nos trimestres iniciais de 2016, as projeções indicam que a inflação entra em trajetória de convergência” à meta.
Aqui, há uma mudança sutil na linguagem do BC. Seus dirigentes vinham alertando que a inflação “tendia a convergir”, mas ainda não convergia em direção à meta, até meados de 2016. Foi o que disse o diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, na divulgação do relatório de inflação de junho, respondendo a questionamento sobre quanto tempo os juros deveria permanecer estáveis em 11% ao ano. Ele se referia ao fato de que, no relatório de inflação, a variação do IPCA projetada para junho de 2016 ficava em 5% e 5,1% nos cenários de mercado e de referência, portanto acima do centro da meta, de 4,5%.
Neste mês, sai um novo relatório de inflação, e a tendência é que a projeção central esteja mais próxima do centro da meta, se não estiver exatamente nela. Além da inflação sem resistência, deve contribuir para tanto a cotação do dólar, que estava pouco abaixo de R$ 2,30 na data de corte do relatório de inflação, menor do que os R$ 2,35 considerados no relatório de junho passado.
Outra mudança importante na ata do Copom é que, pela primeira vez, o colegiado afirma que as taxas de crescimento da absorção doméstica (consumo, investimento, gastos do governo) se alinharam com o PIB (aqui entendido como a oferta agregada). Até então, o discurso era de que absorção doméstica e PIB tendiam a convergir.
O resumo da ata divulgada ontem, portanto, é que o cenário inflacionário impõe menos riscos, por isso a retirada da expressão “neste momento” no comunicado, que indicava que o Copom estava disposto a subir os juros acima de 11% ao ano, caso fosse preciso. Mas a questão segue em aberto: quando o Banco CENTRAL pode começar a baixar os juros?
Ao mesmo tempo em que assinala progressos no campo inflacionário, o Copom ainda mostra desconforto. Isso fica expresso na ambiguidade na linguagem da ata quando cita a convergência da inflação à meta. Num parágrafo, o 19, o documento diz que a inflação converge à meta no começo de 2016, mas no parágrafo 31 está reafirmado que, mantidas as condições monetárias atuais, a inflação “tende a entrar em trajetória de convergência” para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção. O Banco CENTRAL também reafirma que a inflação acumulada em 12 meses segue alta e volta a citar riscos da correção de preços administrados e da taxa de câmbio.
Do lado da atividade econômica, o BC também não dá sinais de preocupação que possam a levar a cortar juros. A ata mantém intacto o cenário de crescimento moderado da economia neste ano, a despeito do PIB negativo divulgado em fins de agosto pelo IBGE, que apontou recessão técnica. O BC reafirma que estão presentes os fatores de sustentação da demanda agregada, como expansão moderada do crédito e crescimento da renda real.
Fonte: Valor Econômico